O volume 20, número 3, da revista Ciência e Saúde Coletiva já está disponível on-line [1]. A edição tem como tema a vigilância de doenças crônicas e violências, encarado como um dos grandes desafios contemporâneos no campo da saúde. Os artigos abordam a necessidade de se investir nesse tipo de vigilância em um contexto de envelhecimento populacional, males causados pelas mudanças climáticas e aumento nos fatores de risco para doenças crônicas e violências.
James Macinko, do Departamento de Políticas, Gestão e Ciências de Saúde Comunitária da Universidade de Los Angeles (UCLA), assina o editorial da revista [2]. Em seu texto, além de comentar a experiência norte-americana nesse campo, Macinko lembra que o Brasil tem uma longa história de vigilância com relação às epidemias e que vem avançando na criação de métodos e abordagens para monitorar as doenças não transmissíveis, as violências e os fatores de risco comportamentais. Entre esses métodos, encontram-se as pesquisas de fatores de risco comportamentais, como o Vigitel, feita por telefone, que tem por objetivo captar mudanças nas taxas de prevalência de comportamentos e nos riscos para a saúde; a notificação universal de eventos significativos (como a violência interpessoal), o uso de dados administrativos (de emergência e hospitalares, para rastrear lesões), técnicas de ligação de dados (linkage) e de captura e recaptura para permitir a apreciação de processos em sistemas de informação.
Ainda segundo o editorial de Macinko, os artigos desta edição de Ciência e Saúde Coletiva demonstram como os esforços de vigilância fazem parte das estratégias nacionais de identificação e enfretamento das desigualdades sociais e da saúde. Um dos artigos [3], que tem co-autoria do pesquisador da Ensp Carlos Minayo Gómez, trata dos acidentes de trabalho, que destacam-se entre os atendimentos por causas externas (acidentes e violência) nos serviços de saúde. Os dados utilizados foram retirados do Inquérito de Violências e Acidentes em Serviços de Emergência (VIVA Inquérito 2011). O perfil prepoderante dos atendidos foi de trabalhadores de indústrias, do setor agropecuário ou de serviços de reparação e manutenção.
A editora científica da publicação Maria Cecília Minayo assina, com outros pesquisadores, artigo [4] que descreve as internações hospitalares decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente, atendidas no Sistema Único Saúde, no período de 2002 a 2013.O trabalho revela que a principal causa de internação foi a autointoxicação intencional por medicamentos e substâncias biológicas não especificadas. Segundo os autores, 'estudos desta natureza fornecem subsídios para a definição de estratégias de prevenção considerando os grupos mais vulneráveis e a complexidade dos fatores associados aos comportamentos suicidas'.
Daniele Bittencourt Ferreira e Inês Echenique Mattos, também pesquisadoras da Escola, contribuiram para a revista com um artigo [5] sobre as taxas de mortalidade por câncer de mama entre mulheres maiores e menores do que 60 anos de idade, em áreas do estado do Rio de Janeiro. A pesquisa usou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade. As taxas foram analisadas por quadriênios, entre 1996-2011, por meio do programa Joinpoint. Observou-se uma tendência de declínio nas taxas de mortalidade, mas ela é ainda elevada entre mulheres com 60 ou mais anos idade.
Um quarto artigo [6] de autoria de pesquisadores da Escola trata dos eventos adversos e outros incidentes na unidade de terapia intensiva neonatal, mostrando que os incidentes que ocorrem nas UTIN, com ou sem lesão no paciente, estão relacionados a erros ou falhas no uso medicamentoso, infecções associadas ao cuidado em saúde (IACS), lesão cutânea, ventilação mecânica e cateteres intravasculares. As causas desses incidentes e eventos adversos estão associadas a fatores humanos e os que provocam mais danos são aqueles provenientes de IACS. Assinam o artigo Luciana da Silva Lanzillotti, Marismary Horsth De Seta, Carla Lourenço Tavares de Andrade e Walter Vieira Mendes Junior.
Na mesma edição de Ciência e Saúde Coletiva, há uma resenha do livro [7] Os Sentidos da Saúde e da Doença, de autoria das pesquisadoras da Ensp Dina Czeresnia, Elvira Maciel e do doutorando da Escola Rafael Oviedo. A publicação discute, numa linguagem acessível, as definições correntes de saúde e doença.