22/04/2024
Adriano De Lavor, Ana Cláudia Peres e Luíza Zauza (Revista Radis)
A jovem mulher, negra, acreana, filha de um seringueiro e de uma dona de casa, militante social e ambientalista falava para um auditório lotado sobre mudanças climáticas e impactos na saúde. A data: abril de 2007. Aplaudida de pé naquele dia, durante aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), ganhou a capa da revista Radis número 58. Era Marina Silva, ministra do Meio Ambiente à época do segundo mandato de Luís Inácio Lula da Silva na Presidência do Brasil.
Dezessete anos depois, ela está à vontade outra vez à frente da pasta, que agora ganhou um complemento e passou a se chamar Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Durante as últimas décadas, Marina viu a crise climática assumir contornos assustadores em um cenário cada vez mais próximo de se tornar irreversível, com o mundo enfrentando ondas de calor intenso, secas extremas e a eclosão de novas pandemias, exatamente como denunciavam os pioneiros da luta ambiental — ela entre eles.
“A gente era os ‘ecochatos’, os ‘ecoterroristas’, que ficavam falando de coisas que pareciam tão distantes”, disse, na entrevista exclusiva à Radis, concedida em dois momentos, em que ela faz um balanço do primeiro ano como ministra, conta sobre “a terra arrasada” que encontrou no Ministério e diz que, apesar disso, foi um ano da reconstrução e da formulação de novas políticas ambientais — ou da atualização daquelas que deram certo.
O desafio agora é o da implementação. “Nós pensamos a questão ambiental não só do ponto de vista da proteção estrito senso, mas como mudança de modelo de desenvolvimento”, defendeu. Para Marina, aliar crescimento econômico e sustentabilidade não é apenas possível, como também necessário.
Disponível, a ministra respondeu a todas as perguntas da equipe e admitiu as contradições de um governo de frente ampla que precisa lidar com temas espinhosos nas questões ambientais e com um Congresso arredio. Mas garantiu que a questão ambiental deixou de ser uma agenda setorial para se tornar uma agenda de governo, liderada pelo próprio presidente da República, e que hoje ocupa lugar tão relevante quanto a área social.
Filha dos seringais
Não foi fácil encontrar uma brecha na rotina da ministra. Marina não para. Da estiagem em Roraima às enchentes no Acre, de um encontro com jovens no Rio de Janeiro onde falou sobre justiça climática em tempos de transformações às reuniões em seu gabinete em Brasília para discutir o mercado de carbono e a transição para a economia verde. Sua fala é um percurso por todos os lugares por onde passa: Vale do Taquari, Brasileia, São Gabriel da Cachoeira, Curralinho. Nesse trajeto, ela nos convoca a todos.
Da pequena comunidade de Breu Velho, onde nasceu no Seringal Bagaço, em Rio Branco, ela guarda muitas histórias e a casinha em miniatura onde morou com a avó. “Para nunca esquecer de onde eu venho”. Aos 66 anos, mãe de quatro filhos, três vezes candidata à Presidência da República, Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima — nome de batismo — está cada vez mais aguerrida.
Em 2023, durante uma reunião do G-20, indagou de forma direta: “Se esse grupo aqui tem a consciência do problema, porque tem acesso aos melhores estudos científicos, aos recursos financeiros e tecnológicos, o que está faltando para começar a fazer a diferença?”.
Aqui, ela esboça uma resposta. Com a palavra, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Leia a entrevista completa com Marina Silva no site da revista Radis.