18/11/2016
Pablo Ferreira (INCQS/Fiocruz)
Produzidas pelos fungos, as micotoxinas representam um problema de Saúde Pública. Sua ingestão pode causar desde uma simples irritação ou alergia, até doenças agudas ou mesmo crônicas, como o câncer. Logo, faz-se necessário um constante monitoramento; sobretudo em alimentos dirigidos ao público infantil – por terem um sistema imune ainda em processo de amadurecimento, as crianças são mais suscetíveis a seus sintomas. Em busca de contribuir nesse sentido, uma tese de doutorado desenvolvida no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) propõe novos e inéditos métodos para o monitoramento de micotoxinas. “Espero que essas novas metodologias possam servir tanto às industrias quanto aos laboratórios de vigilância sanitária”, comenta o farmacêutico André Sartori, autor do trabalho.
A escolha de alimentos dirigidos para o público infantil se deveu exatamente por sua maior vulnerabilidade. Nesse sentido, foram escolhidos produtos com altas taxas de consumo, sobretudo alimentos derivados de cereais, leite em pó e do tipo UHT, as fórmulas infantis utilizadas alternativamente ao leite materno, dentre outros. “Por causa desse público, precisávamos estabelecer métodos extremamente sensíveis”, completa Sartori. Tais análises foram desenvolvidas a partir da rotina profissional dos laboratórios do INCQS. Tomando como referência as metodologias já empregadas para controlar a presença de agrotóxicos em alimentos, o farmacêutico soube adaptá-las e modifica-las para o caso das micotoxinas. Como resultado, chegou-se a procedimentos rápidos e baratos, agora à disposição tanto da Vigilância Sanitária – o que a possibilita monitorar melhor o que é oferecido nos mercados –, quanto para a indústria – que pode controlar a qualidade de sua produção de modo mais eficiente, afim de oferecer ao mercado consumidor alimentos em acordo com a legislação sanitária vigente.
Orientador de Sartori e assessor técnico-científico do INCQS, o engenheiro químico Armi Nóbrega afirma que a aquisição, em 2007, de equipamentos capazes de identificar até uma parte de contaminante (agrotóxicos ou micotoxinas) para cada um bilhão de partes de alimento foi fundamental para o desenvolvimento da tese de Sartori. “A qualidade das metodologias aliada à eficiência dessas máquinas nos permite encontrar até mesmo micotoxias mascaradas”, Armi se refere aqui ao fato de que nos testes tradicionais, as micotoxinas por vezes se associam com alguns componentes do próprio alimento, ocultando-se e dificultando sua identificação; problema que foi superado pelo trabalho de Sartori.
Até aqui, os métodos desenvolvidos são aplicados apenas pelo INCQS, mas Armi gostaria que eles pudessem ser aplicados em todo o país, o que requereria um grande investimento. “O ideal seria que tivéssemos alguns centros regionais de excelência espalhados pelo Brasil, com equipamentos (como o nosso), infraestrutura adequada e pessoal treinado. Se isso fosse possível, a população estaria bem mais segura no que diz respeito ao controle de micotoxinas em alimentos”, conclui.