26/10/2015
Talvez a relevância do debate sobre movimentos sociais esteja na possibilidade de se pensar em ações sociais coletivas, de traços sociopolíticos e culturais que permitam novas formas de organização dos indivíduos, numa espécie de resistência à exclusão e luta pela inclusão social. Um estudo sobre mulheres em assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra abordando gênero, educação, saúde e trabalho indicou que o trabalho, ou as ‘lidas’ da mulher assentada são amplas e nem sempre reconhecidas. No que se refere à saúde, de acordo com a pesquisadora Beatris Diniz Ebling, “constatou-se que as cidadãs na condição de assentadas estão expostas a vulnerabilidades, pois vivem em um espaço no qual o trabalho é eminentemente braçal, expostas aos fenômenos e instabilidades da natureza”. Outra constatação da pesquisa foi a ampliação do espaço de participação da mulher nos negócios da família, inclusive com linhas de crédito específicas para agricultoras, o que na opinião de Ebling “contribui para a emancipação feminina”. O artigo As mulheres e suas ‘lidas’: compreensões acerca de trabalho e saúde, de autoria de Sandra Beatris Diniz Ebling et al., conclui que é necessária a união de esforços para ampliar ações que subsidiem a elaboração de políticas públicas que possam abranger o contexto da realidade em que essas mulheres se inserem.
Em um ensaio que põe no centro de suas reflexões os limites e as consequências da metáfora do trabalho para a atividade do professor, o pesquisador Gideon Borges dos Santos, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, afirma que a docência foi modelada a partir do trabalho industrial, o que lhe conferiu objetivação e reconhecimento social. “Entretanto”, diz ele, “despreza-se cada vez mais aquilo que se constitui em seu cerne e que dificilmente se deixará apreender por metas e mensurações universais: a autoformação humana.” Para o autor de Trabalho docente: a cristalização de uma metáfora, a exigência de objetividade dos processos escolares, por exemplo, sempre será precária e provisória, não definindo nem esgotando a tarefa de educar. Em consequência, a prática docente deve ser entendida como ação, como um ‘não saber’, cada vez mais apresentada como projeto de construção comum, de certa forma longe do alcance da metáfora do trabalho.
A última edição do ano de Trabalho, Educação e Saúde, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), traz ainda textos que tratam do trabalho de avaliação de artigos científicos, educação permanente para trabalhadores da saúde, escolarização de criança e adolescente durante internação hospitalar, experiências gerenciais e trabalho em equipe de enfermeiros na Estratégia Saúde da Família, além de temas como biossegurança, alimentação e política curricular na formação médica no Brasil e em Portugal.