28/06/2016
Famílias com menor renda per capita, residindo em imóvel próprio e com idosos em sua composição têm mais chance de estar cadastradas na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Esse é um dos resultados da tese de Renata dos Santos Rabello, aluna do doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) sob orientação do pesquisador Cláudio José Struchiner. O trabalho teve como objetivo descrever o perfil social e de saúde dos moradores de Manguinhos, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, participantes do Inquérito sobre Condições de Vida e Utilização dos Serviços de Saúde, realizado em 2012, coordenado pela pesquisadora Marília Sá Carvalho e financiado pelo Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública (PDTSP/Fiocruz). “Ao comparar os dados do inquérito com o banco do Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab), constatou-se não estarem cadastrados 18% dos domicílios”, apontou a aluna.
De acordo com a pesquisa, a constante migração de famílias dentro e fora do território estudado precisa ser avaliada pelos serviços de saúde para alcançar a cobertura ampliada e garantir o acesso dessa população à atenção primária.
Outro fator importante é o fato de os profissionais inseridos na Estratégia de Saúde da Família precisarem utilizar as informações produzidas pelo Siab para apoiar o planejamento e a avaliação das atividades e ações de saúde produzidas no território, a fim de transformar a situação local. “Os espaços de educação permanente assumem papel importante para a realização de atividades de sensibilização e treinamento na intenção do preenchimento adequado e uso constante dessas informações.”
A aluna critica o Siab por ele pouco contribuir para a avaliação dos serviços de atenção primária, pois se restringe ao preenchimento de fichas de cadastro e elaboração de relatórios, não conseguindo ser um instrumento de reorganização das práticas de trabalho. “Apesar das práticas de saúde no enfoque da ESF pertencerem à família, os domicílios assumem um protagonismo dentro do Siab, uma vez que os dados obtidos nas fichas estão vinculados diretamente a eles. O cadastro na Estratégia de Saúde da Família pertence ao domicílio, respeitando o princípio da territorialização e divisão das microáreas para as equipes de saúde da família que atuarão especificamente em cada uma delas”, explicou Renata.
Segundo a aluna, a tese pretende expor propostas a fim de deslocar as famílias para o centro da atenção primária, pois as informações de saúde precisam estar vinculadas a elas, e não a seus domicílios, que podem receber novas famílias a qualquer momento.
Renata dos Santos Rabello é especialista em Saúde Pública e mestre em Epidemiologia em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), tem experiência na área de Epidemiologia, desenvolvimento de inquéritos de Saúde, Atenção Primária em Saúde, Tuberculose, e Geoprocessamento com ênfase em doenças infecciosas e saúde coletiva. Sua tese, intitulada Estratégia Saúde da Família: sistema de informações e fatores associados ao cadastramento em inquérito de saúde em uma comunidade do Rio de Janeiro, foi defendida em abril de 2016.