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27/02/2020

Estudo amplia informações sobre parasito da leishmaniose

Fiocruz Bahia


A Plataforma Bioinformática do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) colocou sua lupa para mais um campo de pesquisa ainda pouco investigado: a composição da membrana de parasitos do gênero Leishmania, alguns dos quais causam a leishmaniose. O achado é fruto de um novo artigo cujo autor principal Lucas Gentil Azevedo, mestrando no Programa de Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI/Fiocruz Bahia), sob a orientação do pesquisador do Cidacs Pablo Ramos. A leishmaniose é uma doença negligenciada que assola sobretudo populações mais pobres, sendo endêmica em muitas regiões do país, inclusive na Bahia.

O estudo foi publicado na revista Parasites & Vectors, referência no estudo de doenças tropicais e negligenciadas, e contou também com a participação de outros pesquisadores da Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), incluindo Aldina Barral, Artur Queiroz e Luciane Santos. Para entender o achado, é preciso saber que as células são formadas por membranas cuja a estrutura basicamente é composta por lipídios e proteínas – é essa parte da célula que seleciona aquilo que entra e sai.

Neste estudo, Azevedo investigou uma parte específica dessa fina camada da célula: o Lipofosfoglicano (LPG). “A variação dos genes que fazem parte da síntese desse componente nas diversas espécies de Leishmania ainda é pouco compreendido mesmo sendo sabido que ele é um importante fator de virulência das leishmanias”, explica o pesquisador. “É uma doença negligenciada, não tem tanto investimento no campo da pesquisa”, acrescenta.

“E o LPG é um composto de membrana muito importante durante todos os estágios de vida do parasita. Desta forma, entender a variação dos genes responsáveis pela sua síntese é um dos primeiros passos para compreendermos melhor a sua variabilidade entre as diferentes espécies de Leishmania”, detalha Gentil.

Ainda voltando à aula de biologia, para um agente causador de doenças se espalhar no corpo, é preciso que ele se replique dentro das células do hospedeiro. Para entender o papel do LPG nos quadros de manifestação da leishmaniose, os pesquisadores aplicaram uma estratégia de mineração de dados para comparar em larga escala o DNA do protozoário causador da doença. Os dados foram coletados de sistemas públicos nacionais e internacionais.

Assim, eles puderam perceber as semelhanças e diferenças entre as diversas sequências genômicas – ou seja, a ausência, presença ou duplicação dos genes, aquele componente que determina as manifestações das mais elementares às mais complexas de qualquer organismo.

O estudo resultou na criação de um catálogo com os genes relacionados à síntese do LPG nas diversas espécies de Leishmania vinculando-os com dados filogenéticos (forma como se agrupam, a ordem e evolução dos genes) e de expressão de RNA (estrutura responsável pela síntese de proteínas). Os dados gerados nesse trabalho podem servir como um guia para outros pesquisadores realizarem estudos in vitro (aquele da bancada com vidros e tubos tradicionais) mais aprofundados sobre o tema.

O que é a doença?

As leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania e da família Trypanosomatidae. De modo geral, essas enfermidades se dividem em leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral (ou calazar), que acomete órgãos internos.

Trata-se de uma doença negligenciada, ou seja, que recebe pouco investimento para pesquisa, tratamento, treinamento de profissionais de saúde e produção de novos fármacos. Entre 2014 e 2018, foram diagnosticadas 19.053 pessoas com leishmaniose no Brasil, de acordo com o Departamento de Informática do SUS (DataSUS).

É uma doença transmitida ao homem (e também a outras espécies de mamíferos) por insetos vetores ou transmissores, conhecidos como flebotomíneos, muito parecido com mosquitos. No Brasil, esses insetos podem ser conhecidos por diferentes nomes de acordo com sua ocorrência geográfica, como tatuquira, mosquito palha, asa dura, asa branca, cangalhinha, birigui, anjinho, entre outros.

Trajetória

Atualmente mestrando no curso de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa da Fiocruz Bahia, Lucas Azevedo produziu o artigo que descreve estes achados como fruto de seu projeto de Iniciação Científica, período em que foi contemplado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

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