16/10/2013
“Os motivos que levam o usuário da Estratégia de Saúde da Família (ESF) a comparecer ou não às consultas médicas programadas precisam ser conhecidos, em virtude do impacto negativo que as faltas podem causar no serviço de saúde, inclusive de caráter financeiro, e no cuidado do usuário.” Com esse objetivo, Mellina Marques Vieira Izecksohn, aluna do mestrado profissional em Saúde Pública, dedicou-se a uma pesquisa quanti-qualitativa para fundamentar sua dissertação, que teve orientação da pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jaqueline Teresinha Ferreira. As técnicas do estudo consistiram na quantificação de faltosos (48,9%) em duas equipes do Centro de Saúde Escola Manguinhos (RJ), num período de seis meses, e de entrevista semiestruturada com 22 pacientes cadastrados na ESF que faltaram ou não às consultas médicas agendadas. A aluna defendeu sua dissertação na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
A pesquisadora explicou que, dentre os motivos para as faltas às consultas citados pelos usuários, destacou-se o esquecimento, assim como o agendamento em horários inoportunos, grande parte no horário de trabalho (foto: arquivo Fiocruz)
Segundo Melina, foi identificado um percentual de faltas de 48,9% no período de seis meses estudado, sendo que dessas faltas, 58,5% das pessoas faltaram uma vez, 26,5% faltaram duas vezes e 15% faltaram mais de três vezes. “O principal motivo para agendamento das consultas dos usuários foi o acompanhamento de sua saúde que pode ter diversas interpretações por parte dos profissionais de saúde e dos pacientes”, afirmou.
A pesquisadora explicou que, dentre os motivos para as faltas às consultas citados pelos usuários, destacou-se o esquecimento, assim como o agendamento em horários inoportunos, grande parte no horário de trabalho. Alguns ruídos na comunicação dos usuários com a Unidade de Saúde, acrescentou ela, também foram identificados, como a impossibilidade de cancelamento do encontro sem que o mesmo compareça ao serviço. “O papel do agente comunitário de saúde como a pessoa que agenda as consultas também é relevante, contribuindo tanto para a assiduidade como para as faltas às consultas”, destacou Melina.
De acordo com ela, foi possível identificar alguns aspectos relacionados à organização do serviço de saúde e a características do usuário. “A ampliação das formas de comunicação da equipe com os usuários, tendo em vista a ampliação do cuidado, um aprimoramento da escuta e pactuação entre os atores no momento do agendamento considerando o cotidiano dos usuários; uma maior flexibilização da equipe e de seus horários, bem como um maior comprometimento por parte deles, a implantação de envio de mensagem de texto são algumas propostas que surgem para melhorar a assiduidade às consultas médicas” completou.
O cenário do estudo de Mellina constitui-se no complexo de Manguinhos, situado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, com cerca de 36.000 moradores, renda per capita de R$ 118,8624, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,72624. Segundo o Instituto Pereira Passos, essa região encontra-se na 122a colocação em relação ao IDH entre os 126 bairros do município. “A violência local, relacionada ao tráfico de drogas e às frequentes incursões policiais faziam parte do cotidiano dos moradores da região até a ocupação da área pela Polícia Militar, em 14 de outubro de 2012 e a instalação da Unidade de Policia Pacificadora no início de 2013. O que se configura, em 2013, é um clima de menos violência e de muita desconfiança, com policiais militares circulando intensamente por todas as comunidades”, informou Mellina.
A população abrangida pelo estudo foi dividida em duas equipes. A equipe A é de 2.743 pessoas, das quais 14 são gestantes e 811 tem menos de 18 anos, sendo a amostra de estudo composta por 1.917. Já a equipe B abrange uma comunidade com 2.624 usuários, sendo 681 menores de 18 anos e 17 gestantes, sendo a amostra de estudo de 1.927 pessoas.
Mellina Marques Vieira Izecksohn é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2005). Atualmente é médica de família e comunidade - Território Integrado de Atenção à Saúde Manguinhos, preceptora de Residência Médica em Medicina de Familia e Comunidade da Escola Nacional de Saúde Pública e preceptora de residência médica e internato da Universidade Federal do Rio de Janeiro.