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03/10/2023

Fiocruz comemora oito décadas do Banco de Leite Humano

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


O Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) abriu, nesta terça-feira (3/10), um evento que comemora os seus 80 anos de fundação e também os 40 anos de atuação do Estado na gestão desses espaços. O coordenador e fundador da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), João Aprígio Guerra de Almeida, afirmou que o evento é o primeiro de uma série que culminará na realização do VII Congresso Brasileiro de Bancos de Leite Humano e no IV Fórum de Cooperação Técnica Internacional em Banco de Leite Humano, em 2024. “São quatro décadas de inovação, solidariedade e excelência em bancos de leite humano”, afirmou Almeida, que em 2020 recebeu o Prêmio Dr. Lee Jong Wook, concedido anualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a indivíduos ou instituições que contribuíram com importantes avanços para a saúde pública.

 

A experiência brasileira, capitaneada pelo IFF/Fiocruz, tornou-se um modelo de referência mundial e é a base para a criação de programas do gênero em países da América Latina, do Caribe, da Península Ibérica, da África e também nos Brics. “Os Bancos de Leite Humano têm sido um dos mais importantes elementos estratégicos da política estatal em favor da amamentação, no decurso das últimas décadas no Brasil. O BLH é a Casa da Amamentação”, observou Almeida.

O coordenador da rBLH disse que a Rede demonstrou grande capacidade de superação durante os últimos anos, ao enfrentar momentos difíceis para a saúde pública e a ciência no país. “A Rede é formada por pessoas que têm o mesmo ideal e o mesmo credo, que é a promoção da amamentação, originalmente no Brasil e agora no mundo”, ressaltou. Ele acrescentou que nas próximas semanas haverá missões da Rede a países como Peru, Cabo Verde, Angola, Moçambique e El Salvador.

A assessora técnica da Coordenação de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Renara Guedes, afirmou que os BLH são uma política pública de imensa importância no Brasil e no mundo e tem salvado muitas vidas. “Posso dar um exemplo pessoal, da minha própria história. Fui mãe aos 19 anos e doava cinco potes de leite por semana. Anos mais tarde, meu quarto filho nasceu prematuro e precisou de doação de leite, o que obtive no BLH. E isso salvou meu filho. Estive nos dois lados e afirmo que é extremamente importante que as mães amamentem e que outras façam doações”.

Evento é o primeiro de uma série que culminará na realização do VII Congresso Brasileiro de Bancos de Leite Humano e no IV Fórum de Cooperação Técnica Internacional em Banco de Leite Humano, em 2024 (foto: Bruno Guimarães, IFF/Fiocruz)

 

O diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Marco Menezes, observou que pretende se engajar no aprofundamento das parcerias entre a Rede e as escolas de saúde pública pelo país afora. Ele disse que precisa também haver o reforço de inciativas inclusivas, que beneficiem as mães deficientes. A vice-diretora de Pesquisa do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Mônica Magalhães, comentou sobre a cooperação com a Rede e lembrou dos programas de capacitação profissional na área.

A pediatra e coordenadora da Área Técnica de Aleitamento Materno da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Maria da Conceição Monteiro Salomão, reforçou a importância das politicas públicas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, explicou os benefícios da amamentação e de suas características protetivas e classificou o leite como “gotinhas brancas que trazem colorido às vidas”.

A coordenadora-adjunta das Residências em Saúde da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Adriana Coser, discorreu sobre o aleitamento materno e a generosidade da doação de leite humano. Emocionada, ela contou que também precisou de doação ao ter um filho prematuro. Para a pesquisadora Roberta Argento Goldstein, da área de Políticas Públicas e Modelos de Atenção à Saúde da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz), a Rede BLH é um exemplo de acolhimento e de bem-sucedida estratégia de política pública no camp0 da amamentação, com olhar especial para os vulneráveis, e que se tornou um modelo para o mundo.

O diretor do IFF/Fiocruz, Antonio Flavio Vitarelli Meirelles, sublinhou que “falar do BLH é falar de amor. A amamentação e a doação envolvem as mães, os filhos, as doadoras e os profissionais de saúde, em um grande gesto de generosidade e fraternidade”. Ele destacou também “que a Rede BLH é a maior ação diplomática em saúde do governo brasileiro e faz parte dos conceitos de colaboração Sul-Sul, da cooperação com os países lusófonos, da Agenda 2030 e do combate à fome. Para termos um SUS mais equânime e inclusivo precisamos fortalecer ainda mais a Rede. E é fundamental direcionar nossa atenção para incluir os pais nesse movimento e cobrar das empresas que mantenham espaços próprios para as trabalhadoras que amamentam”.

Depois da mesa de abertura, ocorreu a sessão Estórias e histórias de momentos que demarcaram a trajetória do BLH-IFF, que contou com as participações de Noêmia Rodrigues, Nancy Fagueiro, Marlene Roque, Angela Muniz, Franz Novak, Cecy Dunshee, Danielle Silva, Claudio Decaro, Alejandro Rabuffetti, Euclydes Arreguy, Mariana Simões, Jonas Borges da Silva e Antônio Vitarelli Meirelles, com a mediação de João Aprígio Guerra de Almeida. Eles recordaram histórias curiosas e divertidas que viveram no BLH.

Depois da mesa de abertura, ocorreu a sessão Estórias e histórias de momentos que demarcaram a trajetória do BLH-IFF (foto: Bruno Guimarães, IFF/Fiocruz)

 

Ao final, Almeida lembrou do ex-presidente da Fiocruz Sergio Arouca, do ex-diretor do IFF Paulo Roberto Boechat e do pesquisador Rivaldo Venâncio e afirmou que o BLH deve muito a eles. Ele também apresentou alguns dos novos profissionais que integram a equipe do BLH. Em seguida houve homenagens a antigos e atuais profissionais. O evento continua nesta quarta-feira (4/10). 

História

O primeiro Banco de Leite Humano do Brasil foi implantado em outubro de 1943, no então Instituto Nacional de Puericultura, atual Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O principal objetivo era coletar e distribuir leite humano para atender os casos considerados especiais, como prematuridade, perturbações nutricionais e alergias a proteínas heterólogas. Com a mesma perspectiva foram implantadas mais cinco unidades até o início dos anos 1980. A tendência de novas implantações se manteve constante entre 1943 e 1979, com a média de uma inauguração por década.

“Contudo, ao longo dos anos 1980, particularmente a partir de 1985, observou-se uma grande expansão, com a instituição de 47 novos serviços que, somados às 56 implantações ocorridas na década de 1990, passaram a totalizar 104 unidades em funcionamento, segundo estimativa apresentada no I Congresso Brasileiro de Bancos de Leite Humano, realizado em Brasília em julho de 1998”, destacou João Aprígio Guerra de Almeida. A história dos bancos de leite humano no Brasil pode ser dividida em duas fases. A primeira teve início em 1943, com a implantação do BLH-IFF/Fiocruz, estendendo-se até 1985, quando se constituiu um novo modelo, vigente até hoje.

Banco de Leite Humano

O Banco de Leite Humano (BLH) é um serviço de atenção à saúde, normalmente localizado dentro dos hospitais públicos para promoção do aleitamento materno e execução das atividades de coleta, processamento e controle de qualidade do leite humano doado, para posterior distribuição sob prescrição do médico ou nutricionista, para os bebês cujas mães não estejam produzindo leite suficiente, de acordo com as necessidades do recém-nascido.

O leite é especialmente importante em casos de bebês prematuros. Os bancos contam ainda uma estrutura adequada para estocagem do leite materno doado, após processamento; como também realiza trabalhos de investigação, educação, informação e aconselhamento sobre o aleitamento materno. Entre os principais impactos do aleitamento materno para os recém-nascidos estão a redução da mortalidade neonatal e a proteção contra diversas doenças, como desnutrição, diarreia e outras doenças do trato gastrointestinal.

Como resultado da cooperação técnica internacional brasileira foi constituída a Rede Global de Bancos de Leite Humano, reconhecida pela OMS e coordenada pela Fiocruz.

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