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07/10/2016

Fiocruz e UFRJ fecham parceria para centro de farmoquímica

Alexandre Matos (Farmanguinhos/Fiocruz)


O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) assinaram, nesta quinta-feira (6/10), o termo de cessão do terreno que a instituição acadêmica cedeu para a Fundação. Com cerca de 8 mil m2, no local será erguido o Centro de Referência Nacional em Farmoquímica para pesquisa e desenvolvimento de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), a principal substância de um medicamento, responsável pela ação terapêutica. A iniciativa tem como objetivo dotar o Brasil com maior grau de soberania na obtenção de fármacos.

Na cerimônia de assinatura do acordo: o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe da Silva; o reitor da UFRJ, Roberto Leher; o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha; e o diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, José Carlos Pinto (Foto: Peter Ilicciev/CCS)
 

Segundo o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe da Silva, dentro da cadeia produtiva, essa é a etapa mais importante. “Apesar de hoje termos uma indústria farmacêutica bem desenvolvida no país, somos extremamente dependentes de importação de princípios ativos. Vivemos hoje com a falta de antibióticos no Brasil, principalmente da benzilpenicilina. Se os fabricantes optarem por não produzirem mais, ou aumentarem muito o preço, isso cria barreiras muito sérias para o nosso país”, alertou o diretor.

Enquanto as duas instituições buscam alternativas para fortalecer a área, o Brasil debate a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 241, que limita os gastos com saúde para os próximos 20 anos. O cenário é desafiador, principalmente porque a saúde pública brasileira vem sendo estrangulada há, pelo menos, 20 anos, quando, ainda na década de 1990, a política industrial equivocada enfraqueceu as indústrias farmoquímicas nacionais e levou o Brasil à dependência de IFAs importados.

“O momento em que vivemos hoje é a dificuldade que o sistema de saúde tem para enfrentar a sífilis congênita, pois não temos mais a produção de benzilpenicilina atualmente em nosso país. Portanto, é muito importante estar trabalhando na construção desse projeto. O objetivo é buscar nosso sonho de desenvolver aqui inovações radicais e incrementais e poder contribuir, não só com a tecnologia, mas principalmente com a formação de recursos humanos. E nada melhor do que um parque tecnológico inserido num campus universitário para nos ajudar nisso”, salientou Hayne Felipe.

Estrutura e atuação

O diretor detalhou como o Centro poderá contribuir para mitigar esse sério problema no campo da saúde pública. “Será um polo inicial de desenvolvimento e de formação de recursos humanos para que a indústria farmoquímica brasileira retome seu caminho, principalmente agora com a experiência das PDP (Parceria de Desenvolvimento Produtivo). Nossa expectativa é de que, com o esforço de construção do Centro, continuemos ajudando a implantação de uma política industrial brasileira principalmente na área farmoquímica”, assinalou.

O Centro de Referência Nacional em Farmoquímica terá uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento de moléculas farmacêuticas ativas. A grande novidade neste projeto é a construção de uma planta-piloto acoplada aos laboratórios de pesquisa, área necessária para o aumento de escala do produto. As próximas etapas são a elaboração do projeto executivo (2017), em seguida, a construção do edifício (2018) e, por fim, equipá-lo com estrutura tecnológica. A previsão é de que em 2019 comecem as atividades do Centro de Referência Nacional em Farmoquímica de Farmanguinhos.

Assim como Hayne, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, agradeceu à pesquisadora Núbia Boechat, chefe do Laboratório de Síntese de Fármacos da unidade, pelo estímulo, que “há anos vem nessa batalha de preencher essa lacuna essencial do ponto de vista da cadeia da inovação”, frisou.

Gadelha agradeceu ainda ao diretor do Parque Tecnológico, José Carlos Pinto, e ao reitor da UFRJ, Roberto Leher, pela generosidade de ceder um espaço para a Fiocruz. “E nós vamos corresponder às expectativas, sem dúvidas, e espero que seja mais um elemento do espraiamento dessa relação que a Fiocruz tem com a UFRJ”, disse.

Gadelha frisou que a universalidade e o direito à cidadania que o SUS expressa serão totalmente insustentáveis. “O SUS será um ideário sem base se nós não tivermos a capacidade de pesquisa de inovação de base produtiva nacional”. Em relação a possíveis desabastecimentos de fármacos, Gadelha citou os problemas que já existem e que a Fiocruz atua para mitigar. “Nós tivemos isso em várias situações, especialmente nos casos das doenças negligenciadas, e, agora, a dependência com relação às doenças mais contemporâneas”, exemplificou.

Priorização e fortalecimento do SUS

Segundo o presidente, a partir dos últimos 15 anos a saúde trouxe para si um papel significativo no processo de estímulo à inovação e na base produtiva nacional. “Quando pegamos um elemento desse processo, que é a parte de síntese química, fundamental para se obter o conhecimento, para que detenhamos a tecnologia, e, num momento de crises, o setor público possa entrar para fazer a produção direta”, assinalou.

A observação de Paulo Gadelha se deve ao fato de, apesar de o Brasil ser o principal mercado farmacêutico da América Latina, e o sexto do mundo, movimentando cerca de US$ 28,5 bilhões em 2012, de acordo com dados do IMS Health, o país produz somente cerca de 20% de todo IFA utilizado pelas farmacêuticas nacionais. O resultado é um déficit de US$ 2,4 bilhões neste segmento (dados de 2010).

Neste sentido, a produção de IFA é atividade considerada tão estratégica para o país quanto a fabricação de medicamentos. A consolidação da indústria farmoquímica, por exemplo, garantiria ao Brasil maior autonomia para produzi-los, permitindo o fortalecimento do SUS e, com isso, a ampliação do acesso da população a medicamentos essenciais.

Colaboração científica

Reitor da UFRJ, Roberto Leher ressaltou a importância dessa iniciativa conjunta. “Concretiza um desejo das duas instituições em somar esforços em defesa da construção de bases tecnológicas e científicas para que o país possa ter maior infraestrutura e autonomia na produção de fármacos de diversos tipos, mais particularmente para doenças negligenciadas. Este momento coroa também um esforço comum em defesa do Sistema Único de Saúde, sistema esse estratégico para o futuro da nação”, disse.

Leher informou que a ideia é expandir a relação entre as instituições. “Ampliar essa via de mão dupla envolvendo cooperação acadêmica, como uma pós-graduação em pesquisa, por exemplo, e compartilhamento de espaços de pesquisa de modo que as nossas instituições possam alterar o tamanho da base de pesquisa e desenvolvimento em nosso país em defesa dos interesses maiores da sociedade brasileira, particularmente em pesquisa e desenvolvimento na área da biotecnologia e da química de fármacos. Queremos, no futuro, desenvolver a produção de biofármacos, que também é algo que entendemos ser muito estratégico para o Sistema Único de Saúde”, adiantou Leher.

Assim como o reitor, o diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, José Carlos Pinto, destacou a importância da construção do Centro de Referência Nacional em Farmoquímica da Fiocruz naquele campus universitário. “Do ponto de vista muito particular para o Parque, esse projeto permitirá também a construção de novas interfaces de interação com outros departamentos e outros pesquisadores da UFRJ. A Saúde é uma das áreas de pesquisa mais importantes para a instituição, tanto em termos de pesquisadores, que trabalham nesse sistema, quanto em número de cursos que estão envolvidos com os temas da Saúde. Portanto, a vinda da Fiocruz para o Parque Tecnológico abre uma perspectiva real de aprofundamento da interação entre as pesquisas que são feitas nos laboratórios da UFRJ e o meio industrial e a possibilidade que essas soluções atinjam o mercado”, salientou.

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