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18/11/2014

Fiocruz recebe acervo de fotos do americano Anthony Leeds, pioneiro da sociologia urbana

COC/Fiocruz


Pioneiro no campo da sociologia e da antropologia urbana no Brasil, o norte-americano Anthony Leeds registrou na década de 1960 uma série de imagens de favelas e bairros populares do Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras, como Curitiba, Salvador e Porto Alegre, além de países da América Latina, entre os quais Venezuela e Colômbia. A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) recebeu, na última quinta-feira (13/11), a doação de 770 fotos inéditas do arquivo do antropólogo.

Meninos às margens de curso d'água na favela do Jacarezinho, no Rio (foto: Acervo COC/Fiocruz)
 
 

A doação foi feita pela viúva de Leeds, a cientista política Elizabeth Leeds. Autores do livro A Sociologia do Brasil Urbano, obra clássica dos estudos urbanos no país, eles usaram a fotografia como elemento importante no trabalho etnográfico que desenvolveram. As imagens mostram favelas já removidas, como Macedo Sobrinho, que ficava no Humaitá, Zona Sul da capital fluminense, e outras que cresceram e se consolidaram, como Jacarezinho, Rocinha e Santa Marta. No verso de algumas fotos há anotações feitas pelo próprio Leeds.

Cenas de mulheres carregando latas d’água na cabeça sucedem imagens das obras de instalação de caixas d’água e de rede elétrica nas favelas. Parte do acervo é composta pelo retrato de personagens, entre os quais seus informantes no trabalho de campo, operários e crianças. O acervo também traz itens que mostram o dia a dia em Parques Proletários, construídos para receber as populações de favelas removidas. “A fotografia é uma outra maneira de se expressar [...] É tão importante quanto o texto”, disse Elizabeth Leeds, que esteve no Rio para formalizar a doação.

Rio: 'cidade querida'

As fotografias estavam na casa da antropóloga em Vermont, nos Estados Unidos. Antes de repassá-las à COC, Elizabeth as organizou em pastas com os nomes das localidades em que foram tiradas. “Fiquei muito feliz de encontrar um lugar confiável para guardar esse material. Eu queria que ele ficasse no Brasil e especificamente no Rio, uma cidade muito querida para mim”, afirmou Elizabeth, que morou na capital fluminense por 14 anos, entre idas e vindas, e atualmente participa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Essa doação é uma maneira de devolver tudo o que a cidade deu a ele e a mim”, declarou.

As fotografias de Anthony Leeds, morto em 1989, somam-se a parte de seu arquivo que já estava sob a guarda da COC, que o organizou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). A doação foi intermediada pela socióloga Lícia Valladares, reconhecida pesquisadora das favelas no Brasil. O conjunto contém registros do trabalho do antropólogo nas favelas, livros, documentos da sua atuação como docente no Museu Nacional, entre outros itens. A outra parte arquivo de Leeds está no Smithsonian Institution, em Washington, nos Estados Unidos.

Moradores de Parque Proletário da Gávea, no Rio, posam para foto (foto: Acervo COC/Fiocruz)

 

“As fotografias são mais do que um complemento para a documentação textual que já recebemos. Elas trazem inscrições próprias de uma vivência de pesquisa e de um momento da história das favelas, da cidade e do nosso País. São fotos de uma sensibilidade e de uma plasticidade que comovem”, disse a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade.

Exposição no aniversário da cidade

Segundo Nísia, a Fiocruz vai propor a realização de um seminário sobre o acervo e o trabalho de Leeds, além de uma exposição com as fotos, como parte da comemoração dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro. “Não é possível pensar o Rio sem pensar o fenômeno das favelas. Vários sentidos foram dados a ela ao longo dessa história: já foi vista como um cancro, como problema e como solução. É preciso pensar a favela como identidade da nossa sociedade e como patrimônio: o que ela traz de tensões, mas também de criação”, afirmou.

A doação consolida uma nova linha de acervos sob a guarda da COC, que tradicionalmente abriga arquivos de médicos, sanitaristas e cientistas da área da saúde, explica o diretor da unidade, Paulo Elian. “Esse conjunto é representativo de um tipo de arquivo que recentemente temos trazido a partir de uma relação entre pesquisa e documentação, que são acervos de cientistas sociais que, em alguma medida, em seu trabalho dialogam com questões de saúde, de políticas sociais e questões urbanas”, explicou.

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