Uma vida nada monótona
Fernanda Marques
Seus livros, como Parasitologia e Bases da parasitologia médica, usados na formação de incontáveis profissionais, somados às aulas, conferências e orientações feitas nos quatro cantos do Brasil e do mundo, fazem de Luís Rey um professor recordista em número de alunos. Ele não pára: com quase 90 anos, o pesquisador emérito da Fiocruz trabalha na quarta edição de Parasitologia. A dedicatória – uma poesia para a esposa – já está pronta.
O segredo de tanta disposição? “Uma vida nada monótona”, resume Rey, que conta suas aventuras no livro Um médico e dois exílios. Uma banca de concurso, um seminário, um curso: ele sempre tem algum compromisso. Planeja tirar férias, mas só depois de participar de um congresso de medicina tropical.
No escritório de seu apartamento, Rey finaliza a quarta edição do livro Parasitologia. Foto: Ana Limp.No Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, Rey chefiou, até 2005, o Laboratório de Biologia e Controle da Esquistossomose. Com alegria, entregou o cargo a uma cria sua, o pesquisador Paulo D’Andrea. “A minha satisfação é constatar que os mais jovens são competentes e tocam o trabalho adiante”, explica Rey, que hoje se dedica, sobretudo, aos livros e trabalha mais em casa.
Mas ele não se afastou da Fiocruz. Acompanha a produção dos colegas, contribuindo com críticas e sugestões. A recíproca também é verdadeira: os livros de Rey são avaliados por especialistas da Fiocruz e de outras instituições, que opinam sobre o conteúdo e indicam ajustes.
Vencedora do Prêmio Jabuti 2000, a primeira edição do Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde custou seis anos de trabalho e contou com a colaboração de mais de 100 especialistas. Para escrevê-lo, Rey estudou todos os livros hoje adotados nos cursos de medicina do país, bem como outros documentos consensuais. A partir da leitura, identificou os termos técnicos essenciais, inclusive os mais polêmicos, como fome e aborto, e formulou definições concisas, porém completas e articuladas. “Fiz um dicionário como eu gostaria de encontrar nas livrarias e não existia”, garante.
A qualidade do dicionário é atestada pelo chefe do Departamento de Medicina Tropical do IOC, José Rodrigues Coura. “Rey vai ficar marcado por seu dicionário, livro dos mais consultados. Trata-se de uma obra social – todo mundo que tem dúvidas em parasitologia, helmintologia e saúde em geral recorre a esse dicionário. Além disso, muita gente não sabe, mas Rey também foi o fundador da revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, que é hoje uma publicação importante. Ele é um comunicador, sem dúvida”, define.
Além de seus famosos livros, Rey produziu mais de 40 relatórios para organismos internacionais e governos e publicou mais de cem artigos completos em periódicos e resumos em anais de congressos, entre tantos outros trabalhos. “O Rey teve uma formação excelente. Ele é oriundo do melhor grupo que o Brasil tinha, o grupo do Samuel Pessoa, da USP, que rendeu um número de pesquisadores famosos no país. Foi uma reprodução de líderes.Pessoa era um grande formador e talvez Rey seja seu substituto mais visível, na medida em que o livro de parasitologia do Rey substituiu o do Pessoa”, diz Coura, responsável pela vinda de Rey para a Fiocruz.
Fernanda Marques / Abril de 2007