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01/04/2007

Luís Rey

Rumo à OMS

Fernanda Marques


Embora Rey já negociasse um posto na Organização Mundial de Saúde (OMS), chegou à Europa sem o contrato fechado. A OMS precisava de um técnico para o controle da esquistossomíase na Tunísia, onde as endemias constituíam obstáculos ao turismo. Rey foi à OMS em Genebra saber de seu contrato. Os papéis estavam lá, mas acharam esquisito ele aparecer sem ser chamado. “Banquei o turista. Dissse que estava de passagem e aproveitara para saber como ia a documentação”, diverte-se. Só faltava uma entrevista, feita na hora. Em 1970, Rey instalou-se na Tunísia, com a família.


Na Arábia Saudita, como consultor da Organização Mundial da Saúde. Foto: Arquivo pessoal.
 

Contudo, assustou-se ao conhecer a área endêmica naquele país. “Eu estava no deserto e a esquistossomíase dava nos oásis. Aquilo era totalmente novo para mim”, desabafa. O tipo da doença era outro – esquistossomíase urinária – e a cultura também era diferente. Uma das preocupações do médico foi formar uma equipe só com gente do local, entrosada com a comunidade.

O médico, cujo trabalho levou à eliminação da endemia na Tunísia, deixou aquele país em 1974, mas voltava lá anualmente, para avaliar o programa. “A equipe local sabia o que fazer. Não apareceu nenhum novo caso originário da região”, atesta Rey, que fez a última avaliação na década de 90.

Rey tem, na ponta da língua, a explicação de por que o êxito da Tunísia não se repete no Brasil. “Na Tunísia, havia o interesse do governo central, um bom serviço de saúde em todo o lugar e pessoal da comunidade trabalhando. No Brasil, saúde não é prioridade, os serviços só funcionam na sede dos municípios e recrutar gente do local é complicado. E isso sem contar que discordo do método diagnóstico usado aqui”, enfatiza.

O trabalho que Rey desenvolveu na Tunísia foi muito importante, não resta dúvida. “Mas eu não diria que isso foi a coisa maior da vida do Rey. O conjunto de sua obra supera”, garante Coura. “O conjunto da pessoa e da obra”, corrige. “O Rey é um professor completo, além de uma pessoa de convivência excelente, sempre alegre e disposto a cooperar”, elogia.

Após a experiência na Tunísia, Rey assumiu um posto na Divisão de Malária e Doenças Parasitárias da OMS em Genebra. Ao completar 60 anos, teve que se aposentar, por regra da organização. Mas, como não parava de receber solicitações de assessoria, aposentou-se e foi logo contratado como consultor.

No período em que trabalhou na OMS em Genebra, Rey veio a serviço ao Brasil duas vezes e, sobretudo na primeira, quando fez consultoria para o Programa Especial de Controle da Esquistossomíase (Pece), ainda encontrou um clima de tensão no país. Ao longo de sua carreira, Rey participou de uma variedade de missões internacionais. “Sempre viajei muito. Onde não fui a trabalho, fui como turista. São raríssimos os países da Europa que não visitei. Conheço mais da metade da África. América Latina e Caribe, então, nem se fala”, resume. Depois de Genebra, Rey e Dora moraram por pouco mais de três anos em Moçambique, onde ele esteve à frente do Instituto Nacional de Saúde. “Rey é um pesquisador do mundo”, resume Coura.

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