Agência Fiocruz de Notícias

Para dar início a uma série de debates sobre os 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) recebeu a cientista política Sonia Fleury, para a conferência 30 anos do SUS: desafios e caminhos para o direito à saúde (26/4). O evento também marcou o 32º aniversário da unidade e contou com uma grande plateia de pesquisadores, estudantes e profissionais da comunicação, informação e saúde. “A ideia de celebrar o SUS é a ideia de celebrar a democracia”, iniciou a palestrante, abordando os valores e princípios do SUS.

Em sua análise, Fleury também enfocou a atual conjuntura. “Se nós estamos tendo um retrocesso da democracia, o SUS também está em retrocesso. Nós estamos celebrando as nossas conquistas para, de alguma maneira, nos enchermos novamente de forças, numa grande coalizão que possa lutar pelo SUS, porque lutar pelo SUS é lutar pela democracia e lutar pela democracia é também lutar pelo SUS”, defendeu.

Para ela, o direito à saúde no Brasil requer que os princípios de bem-estar social sejam incorporados pelas instituições, mas também uma cultura que preze o valor da igualdade na sociedade. “Além disso, é preciso um projeto de nação que defenda os recursos necessários para garantir esse direito”, explicou. Conhecida por obras importantes do campo, a autora foi membro atuante da reforma sanitária, tendo participado da 8ª Conferência Nacional de Saúde e outras.

Na área da comunicação, Fleury destacou a economia globalizada e o modelo empresarial da mídia no Brasil como entraves à plena garantia do direito à saúde, comunicação e informação. “Nós precisamos disputar e construir uma hegemonia, e nisso, a comunicação é fundamental”, defendeu a convidada, que foi celebrada e homenageada por toda a mesa, composta integralmente por mulheres.

Direitos, bem-estar e saúde

Após a conferência, houve debate com a participação das pesquisadoras Isabela Soares Santos, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e Maria do Socorro de Souza, da Fiocruz Brasília, com a mediação da pesquisadora Janine Miranda Cardoso, do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Icict/Fiocruz).

Isabela Soares, que também é membro do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), criticou as políticas econômicas de austeridade e o declínio em indicadores sociais e de saúde. “Quando os países entram em crise econômica, a diminuição do gasto público provoca retrocessos”, elucidou, enumerando também questões como aumento de problemas de saúde mental, doenças crônicas, e determinantes sociais da saúde, destacando a importância da realização de um trabalho de base mais intenso no país.

Para Maria do Socorro de Souza, que atuou em movimentos sociais e foi presidente do Conselho Nacional de Saúde, é importante não negar o conflito de classes e vencer a descrença no modelo de participação direta. Para ela, há uma distinção entre as noções de direito e acesso à saúde. “Como é que a gente faz essa conjugação, sem negar uma construção social, histórica e política do que é direito à saúde?”, questionou. 

Aqui somos SUS

O evento de aniversário do Icict/Fiocruz e abertura do ciclo de debates sobre os 30 anos do SUS contou com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do diretor do Icict/Fiocruz, Rodrigo Murtinho, que apresentou ao público o selo Aqui Somos SUS, elaborado pelo Multimeios (Icict/Fiocruz), como parte de uma campanha da valorização do SUS, que em breve será divulgada pela Fiocruz. 

“A ideia é não apenas divulgar o SUS, mas assumir que somos parte dele. Essa biblioteca é uma produção do SUS, por exemplo, não se trata apenas das mazelas que os meios de comunicação tentam nos convencer todos os dias. O SUS é muito mais do que isso”, defendeu Murtinho. A campanha, que em breve será divulgada pelo Icict em parceria com a Coordenação de Comunicação Social da Fiocruz, contará com um espaço para disseminação no Portal Fiocruz, com arquivos para download e regras de aplicação do selo. 

Para marcar o aniversário da unidade, Murtinho apresentou ainda o lema do Icict para o ciclo de debates desse ano: saúde, informação e comunicação são direitos humanos. “São temas interligados,  que se articulam fundamentalmente no campo dos direitos humanos, e que juntos expressam a importância das políticas intersetoriais, um dos pilares centrais na construção do SUS”, concluiu.

O evento foi registrado em vídeo e encontra-se disponível, na íntegra, no canal da VideoSaúde Distribuidora. A programação das próximas atividades do ciclos sobre os 30 anos do SUS será divulgada em breve.