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06/02/2017

Pesquisa investiga vetores de leishmanioses em grutas de MG

Keila Maia (Fiocruz Minas)


Minas Gerais é o estado com o maior número de grutas e cavernas no Brasil, com 2.013 cavidades naturais rochosas, segundo o Cadastro Nacional de Cavernas. Tais ambientes, que atraem um grande número de visitantes, são também o habitat natural de diversas espécies de insetos envolvidos na epidemiologia das leishmanioses, os flebotomíneos. Para compreender os riscos de transmissão da doença em áreas dessa natureza, pesquisadores do Grupo de Estudos em Leishmanioses da Fiocruz Minas investigaram em que horários as espécies ali presentes estão mais ativas. A pesquisa, publicada recentemente na revista científica Journal of Medical Entomology, foi realizada no município de Pains, no Centro-Oeste de Minas, onde está concentrada uma grande quantidade de cavernas.

Com o título Photoperiod Differences in Sand Fly -Diptera: Psychodidae-Species Richness and Abundance in Caves in Minas Gerais State, Brazil (Diferenças de fotoperíodo na riqueza e abundância de flebotomíneos - Diptera: Psychodidae - em cavernas no estado de Minas Gerais, Brasil), o estudo avaliou o ambiente interno e externo de cinco cavernas, em estações seca e chuvosa. Os pesquisadores instalaram armadilhas dentro das cavernas e em seu entorno e, durante cinco dias consecutivos, observaram a cada 12 horas a quantidade de insetos capturada. Ao todo, foram coletados 1.777 mosquitos. Desses, 597 foram apanhados no período diurno, o que corresponde a 34% do total.

“Os flebotomíneos são insetos com hábitos noturnos, então, a hipótese inicial do estudo era que não encontraríamos quantidade significativa de amostras durante o dia. Entretanto,  vimos que, nesses ambientes, os insetos permanecem em atividade em ambos os períodos. Trata-se de uma informação importante para o controle das leishmanioses, pois, com a prática do ecoturismo, muitas cavernas estão abertas à visitação”, afirma o coordenador da pesquisa, José Dilermando Andrade Filho.

Dentro das cavernas, os números foram ainda mais surpreendentes. Durante o dia, os pesquisadores coletaram 360 insetos; já à noite, foram 275. A falta de luz solar no interior das cavernas e a disponibilidade de recursos necessários à sobrevivência podem estar entre as causas para a atividade diurna do mosquito.

“Foram encontrados morcegos e roedores nos arredores das cavernas durante a noite. É possível que esses mamíferos usem as cavernas como abrigo no decorrer do dia e, dessa forma, sirvam de alimentação para as fêmeas dos flebotomíneos”, explica o pesquisador.

Outro dado relevante do estudo é exatamente a quantidade de fêmeas, que representam 72,5% do total coletado.  Foram capturados 1.288 insetos do sexo feminino e 489 machos. Como se alimentam de sangue de vertebrados, são elas, as fêmeas, que podem transmitir a doença a outros animais, como os cães, e também para o homem.

O número de insetos coletados nos arredores das cavernas também desperta a atenção dos pesquisadores. Foram 1.180, sendo a maioria – 905 amostras – capturada no período da noite. Trata-se de um número significativo, especialmente por se tratar de ambientes próximos a habitações, o que torna possível um ciclo rural da leishmaniose.

“Em um estudo anterior realizado em cavernas do município de Lassance, também em Minas Gerais, nosso grupo detectou DNA de Leishmania em quatro espécies de flebotomíneos. Sabemos que isso não singifica que elas estavam infectadas, mas indica que o parasito está circulando nos ambientes de caverna”, destaca Andrade Filho.

A pesquisa realizada em Pains é fruto do trabalho de doutorado da aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Fiocruz Minas, Aldenise Campos. Já o estudo de Lassance é resultado da pesquisa do doutorando Gustavo Mayr.

Sobre a doença

As leishmanioses se dividem em dois tipos: tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e visceral, que ataca órgãos internos, como fígado e baço. A doença é causada por protozoários parasitas que ficam hospedados principalmente em roedores e cães domésticos e são transmitidos ao homem pelas fêmeas de flebotomíneos, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui.

No caso da leishmaniose tegumentar, o principal sintoma é o aparecimento das feridas na pele. Geralmente, a lesão aparece pequena, de forma arredondada, profunda, avermelhada e cresce progressivamente com o passar dos dias. Entretanto, quando o parasita abriga a mucosa do indivíduo contaminado, as feridas aparecem no nariz, na boca ou, em casos mais graves, na garganta e no sistema da laringe do organismo.

Já a leishmaniose visceral é uma doença infecciosa sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia), perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações.

Não há vacina contra as leishmanioses. As medidas mais utilizadas para o combate da enfermidade se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde.

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