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29/10/2018

Revista 'Cadernos' aborda a posição da mulher na ciência

Informe Ensp


“Em 2018, as mulheres ainda representam apenas um terço do conjunto dos estudantes universitários em carreiras de ciências, matemática e tecnologia no mundo. Essa diferença tende a ser ainda mais marcante dentre as posições acadêmicas mais avançadas”. É o que destaca a revista Cadernos de Saúde Pública de outubro.
 
A desigualdade de gênero nas ciências no Brasil, em particular na matemática, foi o tema do 1º Encontro Fluminense de Mulheres em Biomatemática, realizado dos dias 15 a 17 de agosto de 2018. Além do debate, Cadernos explica que o objetivo também foi a divulgação do trabalho realizado por importantes pesquisadoras fluminenses em biomatemática, área interdisciplinar em ascensão no Brasil, na qual a matemática é aplicada a problemas oriundos da biologia, da medicina, da saúde pública, entre outros. 
 
O evento reuniu 33 instituições de ensino e pesquisa, sendo três do exterior, distribuídos entre professores, pesquisadores e estudantes do nível fundamental até doutorado. O tema concentrou-se na epidemiologia matemática, um campo que visa a utilizar a matemática para estudar a dinâmica de doenças transmissíveis e seu controle. Foram apresentados trabalhos sobre dinâmica de dengue, intervenção vacinal para varicela, modelagem de febre amarela e da influenza, e distribuição espacial da leptospirose, dentre outros. 
 
A professora Carolina Araújo, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ressaltou que a discussão sobre gênero na matemática chega atrasada ao Brasil em relação ao resto do mundo. Ela relata números preocupantes: enquanto a representação feminina entre os discentes de licenciatura em Matemática se equipara à masculina, ela cai para 20-30% entre os mestrandos e doutorandos. 

"E a situação não está melhorando", diz ela ao citar os dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Na ciência em geral, as mulheres são 49%; na matemática, são 25%. Dentre os bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 36% são mulheres considerando-se todas as áreas.” 
 
Como reverter esse quadro?, questiona o editorial de Cadernos. Em todas as discussões surge um ponto coincidente e que parece ser a melhor medida imediata de combate ao problema, o incentivo à participação de mulheres cientistas e professoras como modelos que possam inspirar as meninas para que não fiquem com a falsa impressão de que são menos brilhantes e capazes para os estudos que envolvem conhecimentos matemáticos. 
 
Na seção de Revisão, o artigo Evolução e elementos-chave do sistema de farmacovigilância do Brasil: uma revisão de escopo a partir da criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de Daniel Marques Mota, Álvaro Vigo e Ricardo de Souza Kuchenbecker, objetiva descrever e caracterizar o sistema de farmacovigilância do Brasil (Sinaf) e averiguar o atendimento aos requisitos mínimos propostos pela Organização Mundial da Saúde para um desempenho funcional de sistemas nacionais dessa natureza. A taxa de notificação de eventos adversos a medicamentos no Brasil correspondeu, em 2013, a 36 notificações/1 milhão de habitantes, bastante inferior à meta proposta na literatura internacional, que sugere 300 notificações/1 milhão de habitantes. Esse estudo identificou aspectos estruturais e funcionais que podem comprometer o desempenho do Sinaf, como a falta de legislação que institua oficialmente o próprio sistema e suas finalidades.
 
Na seção Ensaio o artigo Epidemia de microcefalia e vírus zika: a construção do conhecimento em epidemiologia, aborda a comoção social, mobilização da comunidade acadêmica que levou o Ministério da Saúde a decretar emergência de saúde pública nacional, seguida pela declaração de emergência de saúde pública de interesse internacional da Organização Mundial da Saúde. O conhecimento construído no âmbito do paradigma epidemiológico recebeu a chancela da comunidade científica, construindo o consenso de uma relação causal entre o ZIKV e a epidemia de microcefalia.
 
Já a seção Questões Metodológicas traz dois artigos. Validade de uma escala de resiliência (RESI-M) em mulheres indígenas do México, de Xiomara Sarahí Sanjuan-Meza, Erick Alberto Landeros-Olvera, e Patricia Elizabeth Cossío-Torres, que avalia a validade e confiabilidade das pontuações obtidas com esta escala, a serem aplicadas em mulheres indígenas. A mostra foi integrada por 180 participantes, pertencentes a diversas municipalidades indígenas do México. A versão é válida e confiável, com uma estrutura que permite avaliar a resiliência como um processo em mulheres indígenas.
 
No artigo Nova validação semântico-cultural e estudo psicométrico da CASP-19 em adultos e idosos brasileiros, de Anita Liberalesso Neri, Flávia Silva Arbex Borim, Samila Sathler Tavares Batistoni, Meire Cachioni, Dóris Firmino Rabelo, Arlete Portella Fontes e Mônica Sanches Yassuda, os objetivos foram investigar indicadores psicométricos de validade de nova versão da CASP-19 para brasileiros com 55 anos e mais e estudar relações entre pontuações na escala e sexo, idade, escolaridade e status conjugal. 368 frequentadores de programas educacionais para a 3ª idade responderam à CASP-19 (controle, autonomia, autorrealização e prazer), traduzida e adaptada do inglês por cinco especialistas e testada em 19 mulheres. Foram comparadas as pontuações dos grupos de sexo, idade, escolaridade e status conjugal e observadas correlações altas e significativas com os escores em escalas de satisfação e felicidade subjetiva. Homens tiveram pontuação mais alta em autorrealização/prazer do que mulheres; os mais velhos e os mais escolarizados, pontuação mais baixa em controle/autonomia; os sem cônjuge, mais alta em controle/autonomia.

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