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07/04/2020

Revista 'Cadernos' debate ciência em tempos de pandemia

Informe Ensp


Cadernos de Saúde Pública (CSP) de abril defende o papel das revistas científicas no conjunto de estratégias e ações voltadas para o controle da pandemia causada pela Covid-19. Para as editoras Marilia Sá Carvalho, Luciana Dias de Lima e Cláudia Medina Coeli, mesmo que os estudos científicos sejam fundamentais para orientar decisões imediatas, a Ciência tem impacto significativo no futuro das sociedades, e a produção do conhecimento científico exige investimento de médio e longo prazos do poder público e da sociedade.

O editorial da revista destaca que, diante da gravidade da situação atual, mesmo as revistas pagas estão liberando o acesso aos artigos publicados. Na Fiocruz, foi criada uma plataforma temática para apoiar a pesquisa e a adoção de medidas relacionadas ao novo coronavírus. Organizada por meio do software livre de gerenciamento de referências bibliográficas - Zotero -, a base continha cerca de 1.600 itens em 22 de março, o que mostra o enorme esforço empreendido pela comunidade científica em todo o mundo.

Em CSP, todas as atividades editoriais estão sendo mantidas por via remota, e as editoras vão dar a maior velocidade possível ao processo de avaliação e publicação dos artigos aprovados, que abordem o tema da Covid-19. Mas por que manter a rotina de publicação de temas aparentemente não tão relevantes neste momento de crise?

O editorial considera que não adianta pedir urgência no desenvolvimento de vacinas se as condições para isto não tiverem sido criadas a tempo. Além disso, a desconfiança quanto à segurança das vacinas, incentivada por governantes, gera limitações que deverão ser enfrentadas no controle e mitigação dos danos da epidemia.

Segundo as editoras, as várias revistas científicas brasileiras publicaram estudos sobre o impacto da atenção primária em saúde na saúde das populações, inclusive, como cabe aos cientistas, apontando os limites e condições para o aperfeiçoamento no contexto atual. No entanto, em vez de aperfeiçoar a proposta, houve demissões em massa. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as suas dimensões também mereceu a atenção de cientistas, inclusive como resultante de uma política de austeridade fiscal que tem retirado um volume expressivo de recursos para as áreas sociais e de saúde.

Segue o editorial afirmando que a capacidade de resposta dos países certamente depende da configuração de seus sistemas de saúde. Mesmo na Itália, com um sistema universal de atenção à saúde considerado um dos melhores da Europa, a assistência hospitalar chega ao limite da sua capacidade de resposta aos pacientes que necessitam de internação e cuidados intensivos. Enquanto na Espanha adotam-se mecanismos de bloqueio e nacionalização do sistema privado de saúde, no Brasil aumenta-se o financiamento dos planos de saúde privados. O Reino Unido vai manter os salários dos trabalhadores para evitar demissões; no Brasil as empresas são autorizadas e cortar jornada de trabalho e salário.

O enfrentamento da epidemia, acrescenta o editorial, deve incorporar a realidade de países com grandes desigualdades socioeconômicas e carga de doença. Não é porque um novo patógeno se dissemina que a situação de saúde anterior desaparece. A alta prevalência de hipertensão, um dos fatores de agravamento do quadro clínico, e a baixa situação socioeconômica e de escolaridade influenciam fortemente o controle dos níveis pressóricos e o desfecho da doença. O distanciamento social dificilmente será factível em comunidades de baixa renda. Por isso, além da iniquidade na assistência, também a propagação será desigual.

O papel da publicação científica tem no sistema de revisão por pares uma mínima garantia da qualidade da produção acadêmica. “O papel de CSP é publicar a produção científica honesta e bem conduzida, como fizemos recentemente com um artigo que aponta o papel da vigilância em saúde oportuna e eficaz”, dizem as autoras.

Na opinião da editoria, cientistas de todo o mundo irão gerar o conhecimento que permitirá enfrentar não só a pandemia da Covid-19, mas também subsidiar políticas que organizem a assistência e possibilitem o cuidado adequado aos pacientes. “Queremos contribuir na mitigação dos danos dessa pandemia e também pensar no futuro. Afinal, tratar a gravidade da infecção também passa por tratar a hipertensão”, finalizam.

Espaço Temático

No espaço temático da publicação, o artigo Desafios da pandemia de Covid-19: por uma agenda brasileira de pesquisa em saúde global e sustentabilidade, de Deisy de Freitas Lima Ventura, Helena Ribeiro, Gabriela Marques di Giulio, Patrícia Constante Jaime, João Nunes, Cláudia Maria Bógus, José Leopoldo Ferreira Antunes e Eliseu Alves Waldman, tem por objetivo refletir sobre o novo “boom” da produção acadêmica no campo da saúde global, com base em dois elementos de análise. O primeiro é a importante mudança do papel que o Estado brasileiro tem desempenhado nas relações internacionais, inclusive com significativa perda de liderança no que se refere à implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. O segundo é a sustentabilidade como enfoque fundamental de uma agenda de pesquisa no campo da saúde global. “Em um cenário de desprestígio da educação e da ciência, é ainda mais importante que os pesquisadores do campo da saúde global estejam atentos às temáticas nas quais a nova atuação internacional do Brasil repercute de forma mais intensa, a exemplo das questões relacionadas à democracia e aos direitos humanos, e neles particularmente as questões de gênero”.

O outro artigo, (In)Segurança alimentar no contexto da pandemia por Sars-CoV-2, de Tatiana Coura Oliveira, Monise Viana Abranches e Raquel Martins Lana, fala que no Brasil, os esforços neste estágio inicial da epidemia estão voltados para o enfrentamento do Sars-CoV-2, especialmente no sentido de evitar sua propagação e, ao mesmo tempo, possibilitar o atendimento em saúde dos casos graves. Entretanto, outra face que se apresenta é a da segurança alimentar. Itália, Espanha e Portugal, já em quarentena, desenvolveram iniciativas para evitar aglomerações que impactaram a cadeia de alimentos. Nesses países, muitos estabelecimentos comerciais de refeições estão fechados e os supermercados passaram a implantar regras para acesso e aquisição de produtos, a fim de evitar o desabastecimento.

Para acessar a edição de abril da Cadernos de Saúde Pública, clique aqui

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