20/05/2022
O teste rápido TR Chagas Bio-Manguinhos, desenvolvido pela equipe liderada pelo pesquisador Fred Santos, da Fiocruz Bahia, foi utilizado pela primeira vez na população na quinta-feira (19/5), para um inquérito soroepidemiológico da doença de Chagas. O projeto piloto foi feito por meio de parceria com a Prefeitura de Tremedal, na Bahia, em residentes de uma área rural da cidade, por demanda da Secretaria Municipal de Saúde.
O Triatoma sordida, vetor da doença de Chagas (Foto: Unesp)
Para o projeto apelidado de Treme Chagas, em analogia ao nome do município, inicialmente foram selecionadas quatro residências onde o Triatoma sordida, barbeiro transmissor do Trypanosoma cruzi, parasito causador da enfermidade, foi encontrado, tanto no intradomicílio quanto no peridomicílio. “A primeira pessoa a ser beneficiada pelo projeto foi uma senhora de mais de 80 anos, dona Amélia. Em sua residência foram coletados mais de cem barbeiros. Essa tecnologia vai ajudar a identificar e dar visibilidade a essas pessoas. Então hoje é dia de comemorar”, afirmou o pesquisador.
O teste foi desenvolvido ao longo dos últimos dez anos e, após diversas avaliações quanto à acurácia, foi submetido à análise da Anvisa, recebendo o registro de produção em 2020. Atualmente, o ensaio faz parte do portfólio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e está disponível para o Ministério da Saúde, podendo ser empregado no rastreio da doença de Chagas no Sistema Único de Saúde (SUS), contribuindo para ações de controle e vigilância epidemiológica.
“O que me deixa muito feliz é que um produto, fruto de nossas pesquisas, chegou à população muitas vezes negligenciada, que carece de cuidados em saúde. Fico feliz por ter contribuído com esta vitória e por ter sido o primeiro a usar nosso produto na população. É fantástico, a gente leva o laboratório para a população, e não a população para o laboratório”, comentou Santos. Todos os pacientes beneficiados com a testagem realizada no primeiro dia do projeto tiveram resultado negativo para a doença.
Vantagens
Os testes sorológicos convencionais (ELISA) e os de biologia molecular (PCR) atualmente utilizados para diagnóstico de Chagas levam horas para apresentar resultado, demandam estrutura laboratorial, equipamentos sofisticados e profissionais com treinamento especializado. Já o kit, desenvolvido em parceria pelas unidades da Fiocruz na Bahia, no Paraná, em Pernambuco, pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e por Bio-Manguinhos, obtém o resultado em apenas 15 minutos. A testagem é realizada com a coleta de amostra de sangue ou plasma, através de um furo no dedo. Caso o resultado seja positivo, uma linha roxa ou rosa vai aparecer, indicando que o paciente foi infectado.
Além de dispensar o uso de equipamentos e de profissionais altamente qualificados, o novo teste amplia a oferta de diagnóstico. Segundo Santos, a maioria dos indivíduos que vivem sob risco de adquirir a infecção reside em áreas remotas e de difícil acesso. “Isso é um marco no diagnóstico da doença de Chagas, pois a aplicação de teste rápido amplia o acesso da população e oportuniza tratamento precoce, oferecendo melhor qualidade de vida a população acometida”, disse o cientista.