As frequentes mutações do novo coronavírus que ocorrem durante sua replicação (produção de novas cópias de si pelo próprio vírus dentro de células de hospedeiros infectadas) podem levar ao surgimento de novas variantes. Por poderem ter uma melhor adaptação aos humanos, essas novas variantes preocupam os cientistas e orgãos de Saúde, pois podem levar a versões do vírus mais resistentes à prevenção ou ao tratamento.
É possível acompanhar as linhagens e mutações genéticas do novo coronavírus e contribuir para um melhor preparo do país em termos de diagnóstico mais precisos e vacinas eficazes. Nesse sentido, monitorar novas variantes com maior potencial de transmissão do novo coronavírus é o papel da vigilância genômica no combate à pandemia. Hoje, o Brasil conta com laboratórios públicos votados para esse mapeamento. No caso da atuação da Fundação, a Rede Genômica Fiocruz reúne especialistas em 11 estados e em outros institutos parceiros que se empenham diariamente em gerar dados mais robustos sobre o comportamento do Sars-CoV-2, por meio da decodificação do genoma viral. Conheça os participantes da Rede.
Imagem: Rede Genômica Fiocruz.
Recentemente, a Rede Genômica Fiocruz identificou mais uma nova linhagem do Sars-CoV-2 no Brasil. Chamada de N.9, a linhagem foi caracterizada como 'variante de preocupação' (ou variant of concern - VOC, na expressão em inglês) por conter uma mutação na proteína S do novo coronavírus, conhecida como E484K, que é associada a evasão (fuga da resposta) do sistema imune e encontrada em outras linhagens com grande disseminação no planeta, incluindo as variantes de preocupação P.1 (também chamada de variante brasileira) e B.1.351 (variante com origem na África do Sul).
De acordo com os dados disponíveis no site da Rede Genômica Fiocruz, já foram realizados cerca de 7,5 mil sequenciamentos do genoma do Sars-CoV-2 no Brasil, sendo São Paulo o estado com o maior número de amostras sequenciadas, com um total de 1.969, seguido pelo Amazonas, com 1.237, e pelo Rio de Janeiro, com 841. Esses dados também são registrados na plataforma GISAID, iniciativa internacional de acesso aberto a informações sobre genomas de vírus influenza e coronavírus. Desde o início da pandemia, mais de 524 mil sequências genômicas do novo coronavírus já foram compartilhadas por pesquisadores de todo o mundo. A Rede Genômica Fiocruz é um dos grupos curadores da iniciativa na América do Sul.
Imagem: Rede Genômica Fiocruz.
Segundo a iniciativa, mais de 60 linhagens do novo coronavírus já foram identificadas no Brasil. No entanto, os especialistas destacam o predomínio no país das linhagens B.1.1.33 e B.1.1.28, que apresentam circulação nacional desde março de 2020. A linhagem B.1.1.28 deu origem a outras duas que passaram a circular mais recentemente em território nacional, a P.1 e a P.2.
A Rede fornece capacitação e suporte técnico em sequenciamento e geração de dados para técnicos e especialistas de instituições de todo o país e da América do Sul a partir de cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS). Na frente de combate ao vírus desde o início da pandemia no Brasil, o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como Centro de Referência Nacional em Vírus Respiratórios para o Ministério da Saúde, promoveu, junto com a Opas, a capacitação de profissionais do Instituto Evandro Chagas e do Instituto Adolfo Lutz para o diagnóstico laboratorial do novo coronavírus. Logo após, esse trabalho se expandiu para a América Latina, auxiliando na capacitação técnica de representantes de nove países, em larga solidariedade internacional e visando a equidade em saúde.
Imagem: Rede Genômica Fiocruz.
Ainda em território nacional, a Laboratório da Fiocruz também implementou a capacitação dos 27 Laboratórios Centrais (Lacens) para o diagnóstico laboratorial do Sars-CoV-2. Assim, todos os estados brasileiros passaram a contam com laboratórios capacitados para a detecção do patógeno. Como Laboratório de Referência para Covid-19 nas Américas nomeado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Fiocruz apoia os laboratórios da região, especialmente de países de média e baixa renda; realiza o sequenciamento genético de amostras para referência global; acompanha a evolução do vírus e identifica mutações que possam ser relevantes para testes de diagnóstico, desenvolvimento de vacina e tratamentos; e desenvolve e implementa métodos de ponta para ensaios.
Uma das principais preocupações neste cenário é se as vacinas Covid-19 serão capazes de proteger contra a infecção de novas variantes do Sars-CoV-2. Existem diversos tipos de vacina e o que se sabe até aqui é que cada uma pode se comportar de forma distinta em relação à manutenção da eficácia diante das novas variantes. Por outro lado, ainda não existe consenso científico sobre um maior potencial de transmissibilidade de cada uma das variantes identificadas, tampouco está definido se causam maior letalidade em decorrência de formas mais graves de apresentação da doença. A única certeza é que o aumento da transmissão viral, que cria maiores oportunidades para o surgimento de variantes do Sars-CoV-2, amplia o terreno das incertezas neste cenário. Desta forma, torna-se ainda mais imperativo o esforço de romper, ou desacelerar, a rede de transmissão do vírus por meio de medidas não-farmacológicas.
Neste espaço da Agência Fiocruz de Notícias, o leitor encontra materiais nos quais pode compreender melhor o que são linhagens ou cepas; também pode vislumbrar como, por meio do sequenciamento genético das amostras, é possível entender a história de um vírus, detectar suas variantes, estabelecer por onde ele passou, discutir programas de ação e atualizar vacinas. A área do site também comporta as últimas notícias e informações sobre a identificação de novas variantes e sobre novas ferramentas para detecção das mesmas. Confira mais nas reportagens sobre o trabalho da Fundação no âmbito da vigilância genômica da Covid-19.
Publicado em 14/5/2021.
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Por meio do sequenciamento genético das amostras é possível entender a história de um vírus, detectar variantes, estabelecer por onde ele passou, discutir programas de ação e atualizar vacinas
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