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08/02/2023

Saúde Yanomami: pesquisador fala sobre o contexto da situação de emergência sanitária

Tatiane Vargas (Informe Ensp)


A saúde da população indígena Yanomami voltou a ser foco nos noticiários no começo deste ano. A situação no maior território indígena brasileiro atingiu patamares inéditos de crueldade, como afirmou o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Paulo Basta, em entrevista ao Informe Ensp. O pesquisador está na terra indígena, em Roraima, junto com outros pesquisadores da Fiocruz, para fazer a devolutiva de um projeto que avaliou o estado nutricional de crianças menores de cinco anos, no mesmo momento em que o Ministério da Saúde (MS) declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional para combate à desassistência sanitária dos povos que vivem no território indígena Yanomami. Paulo lembra que a crise sanitária foi agravada drasticamente nos últimos quatros anos, pela completa falta de assistência do governo. No entanto, as doenças, a desnutrição e as péssimas condições de vida marcam a trajetória dos Yanomamis. 

Médico e pesquisador, Paulo Basta estuda a população Yanomami há 25 anos. Há décadas fazendo pesquisa, vem alertando sobre os efeitos nocivos que o garimpo traz para a saúde das populações indígenas. Um relatório recente que contou com a participação de Basta, apontou que o garimpo cresceu 46% em 2021 na Terra Yanomami. O documento traz um panorama do avanço da destruição garimpeira na maior terra indígena do país, descrevendo a evolução do garimpo ilegal. Outro estudo que contou com a participação do médico revela que peixes de rios de Roraima estão contaminados por mercúrio do garimpo ilegal. Também recentemente, em entrevista ao Informe Ensp, o pesquisador abordou o contexto histórico do caos sanitário na terra indígena, a presença do garimpo na Amazônia e suas consequências à saúde, o grave problema da exposição ao mercúrio, a atuação da Fiocruz, além da polêmica proibição da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em 2021. 

No momento, Paulo participa da Sala de Situação criada pela Fiocruz para articular ações de apoio ao MS e à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) frente à emergência sanitária que afeta as populações indígenas no território Yanomami. Outros pesquisadores da Ensp/Fiocruz, como Ana Lucia Pontes, também fazem parte da equipe junto com milhares de outros voluntários que estão no território atendendo a população. Em entrevista (24/1), Paulo Basta tocou em diversos pontos importantes, como a origem histórica da crise sanitária vivida pelos Yanomamis, os efeitos nocivos do garimpo ilegal, a situação nutricional da população e o estudo sobre a situação nutricional de crianças menores de 5 anos, além da importância da decretação de emergência sanitária pelo novo governo, e da ação institucional da Fiocruz. 

Sobre a decretação de emergência sanitária, Basta destacou que a repercussão ganhou patamares internacionais, que jogam luz para o problema, no trata-se de problemas crônicos instalados no território há anos. “No âmbito das ações emergenciais, estamos trabalhando com duas linhas de frente. A primeira emergencial mesmo, pois temos idosos, mulheres e crianças em situação grave. É preciso levar comida, remédio, água, e profissionais de saúde. Isso é necessário, mas não é o suficiente para resolver o problema. Desta forma, entramos na segunda linha de frente, que são as ações estruturantes, que passam pela infraestrutura, pela contratação de recursos humanos, pela segurança no trabalho entre diversas outras. Para isso, serão necessárias ações interministeriais. O Ministério da Saúde junto com outros ministérios precisam formular políticas intersetorias para garantir a soberania do território”, afirmou.

Saude Indigena

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