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03/02/2021

Visibilidade Trans é tema de evento na Fiocruz

Erika Farias e Roberta Costa (CCS/Fiocruz)


Uma Fundação que se posiciona na luta por uma sociedade mais justa e equânime, buscando reconhecer e enfrentar todas as formas de discriminação, exclusão e violência. Para além de pesquisas em ciência, ensino e produção de vacinas, a Fiocruz é uma instituição de Estado que trabalha em prol da saúde pública em suas diferentes frentes. A fim de reafirmar seu compromisso com a diversidade como um valor fundamental ao conceito ampliado de saúde, a instituição, por meio de seu Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça, realizou no dia 29 de janeiro, o evento on-line Visibilidade Trans na Fiocruz: desconstruindo e reconstruindo pela diversidade.

A coordenadora-geral de Gestão de Pessoas da Fiocruz e integrante do colegiado gestor do Comitê, Andrea da Luz, abriu o encontro lembrando a Tese 11, aprovada no último Congresso Interno, órgão máximo de representação institucional da Fundação Oswaldo Cruz. “É uma Tese que reafirma nossos valores institucionais, esse nosso compromisso de eliminar todas as barreiras, sejam elas internas ou externas, que impeçam a afirmação da diversidade em nossa sociedade”, explicou.

“Hoje é um dia para expormos nossas questões, principalmente em um país tão transfóbico quanto o nosso. Quando eu falo de direitos humanos, eu penso, em primeiro lugar, em saúde pública”, afirmou a assistente de pesquisa clínica e educadora comunitária do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e integrante do Comitê, Biancka Fernandes. “Então, quando eu vejo essas pessoas trans em um espaço como esse, sendo respeitadas e tratadas com dignidade, isso para mim é visibilidade”.

Mesa Visibilizar a pessoa trans e a busca pela equidade

O evento contou com a participação de Mônica Nascimento, autodenominada ‘mãe pela diversidade do Rio de Janeiro’; o juiz da Justiça Itinerante, André de Souza Brito; a pedagoga e militante do Forum TT-RJ, Wescla Vasconcelos; a trabalhadora do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e autora do livro A herança dos chacais, Jennifer Kelly; e a professora de psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e autora do livro Teorias e práticas do TransFeminismo, Jaqueline Gomes de Jesus. A mediação foi realizada pela advogada trans dos direitos LGBTQIA+, Maria Eduarda Aguiar. No encerramento, foi apresentada uma performance de Negrini Ventura.

Combate à transfobia

O preconceito está enraizado na sociedade. Essa é a opinião de Mônica Nascimento, mãe de um homem trans, que afirma ser necessária uma luta constante para garantir a equidade e os direitos das pessoas trans e combater esse cenário de violência que a população sofre. “Quando meu filho se declarou trans, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi a violência. A violência que eu sei que existe para trans, para LGBT, para tudo”, contou Monica, complementando que essa população precisa ter visibilidade e oportunidades.

Evento on-line buscou reconhecer e enfrentar todas as formas de discriminação, exclusão e violência (imagem: Divulgação)

 

Segundo a pedagoga Wescla Vasconcelos, o combate à transfobia tem que ser um exercício estrutural e radical e não deve ser feito unicamente pelas pessoas travestis e transexuais. “Esse espaço fortalece o protagonismo e a visibilidade de pessoas que lutam para reconstruir um mundo mais justo e igualitário. É um debate muito importante para ativar transformações urgentes e necessárias”, pontuou. Para a trabalhadora de Bio-Manguinhos Jennifer Kelly, não é momento de se esconder. “Não podemos nos calar. Por natureza, o ser humano tem medo do desconhecido e nem todos aproveitam esse medo para ir em busca de respostas. Quanto mais nós nos escondermos, é pior. Temos que conquistar nosso espaço que é de direito”, afirmou.

Direitos básicos

O juiz da Justiça Itinerante, André de Souza, pontuou que todas as pessoas tinham que ter em mente o princípio da dignidade e da igualdade. Para ele, não importa como você se vê, você tem que ser respeitado e ser tratado com igualdade plena como qualquer outra pessoa. A fala de André foi reiterada pela advogada trans dos direitos LGBTQIA+, Maria Eduarda. “A constituição diz que não haverá discriminação entre as pessoas. Ela não diz ‘exceto travestis e transexuais’. Ou seja, tem que existir emprego, educação, direitos básicos para todo mundo”, frisou a advogada.

Resistência

A história das pessoas trans e travestis no Brasil também deve ser vista por outro viés. É o que explica a professora de psicologia do IFRJ Jaqueline Gomes de Jesus. Para ela, é muito importante falar sobre a luta e a resistência dos antepassados para a construção da cidadania para essa população. “A nossa história é resistência, a nossa história é vida, é como se contrapôs a uma cultura do ódio, uma cultura do estupro, uma cultura onde machismo e racismo são estruturantes. Se chegamos até aqui, é porque as travestis sempre estiveram aqui lutando e resistindo por nós”, finalizou Jaqueline.

O evento Visibilidade Trans na Fiocruz: desconstruindo e reconstruindo pela diversidade pode ser assistido na íntegra pelo canal da VídeoSaúde Distribuidora da Fiocruz no YouTube. A transmissão conta com tradução para libras, em acordo com o compromisso da Fiocruz de ampliar a acessibilidade na informação e comunicação.

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