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01/03/2006

Victor Valla

Começa a peregrinação pelo país

Ricardo Valverde


Depois de Campinas, Victor viajou pelo Brasil, onde encontrou alguns ex-colegas do curso petropolitano. Mas continuou a viver em mosteiro, com irmãos. Nessa época ele adquiriu um hábito: o de ir para o Centro da cidade, nos fins de semana, conversar com as pessoas mais velhas. Ele sentava e conversava com eles, para melhorar a sua fluência no idioma. "Os velhos são, em geral, muito carentes e gostam quando um jovem chega pra bater papo. Então era bom pra mim e pra eles". Outro costume era o de visitar as favelas, para conhecer a fundo como viviam os miseráveis. O choque de realidade levou Victor a abandonar a ordem. Antes, porém, os irmãos o enviaram para Santarém, no Pará, e em seguida de volta para os Estados Unidos. Como ele não queria sair do Brasil, no entanto, passou um ano em seu país, juntando dinheiro, e então retornou, por conta própria. Ele tinha visto permanente, e isso facilitava bastante.

Foto: Felipe Gomes.
 

Ao chegar ele foi para São Paulo e na capital paulista procurou a União Cultural Brasil-EUA, onde o diretor acreditava que ele era um fugitivo do Vietnã. "Passei a dar aula pro pessoal que ia pros EUA. Dava aulas de literatura e logo foi convidado a ser vice-diretor do curso. Eu só não queria dar aulas de inglês, porque queria distância do meu país de origem". No curso ele conheceu um homem que havia se formado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, e que o indicou para uma vaga de professor de inglês. A princípio Victor não queria, mas foi.

O ITA, embora seja uma instituição militar, era um centro de movimentação estudantil no Vale do Paraíba. No Instituto, onde trabalhou entre 1967 e 1973, Victor viveu a sua segunda fase de politização e isso o levou a fazer mestrado em história do Brasil, na USP - onde também faria o doutorado - porque queria conhecer mais o país. O mestrado, onde muitos colegas pertenciam a grupos clandestinos, seria a terceira fase de politização. Apesar de ser cidadão americano, ele não era visto pelos alunos do ITA como espião - algo bastante comum na época, pois agentes vinculados a órgãos da repressão freqüentavam as universidades, simulando serem estudantes, com o intuito de capturar militantes de esquerda.

Em São José dos Campos, após aprender o método Paulo Freire, Victor decidiu ensinar historia para alguns alunos do ITA, em sua casa, durante as noites. "Falava sobre história contemporânea, sobre o Brasil... eles adoravam, enchiam a sala e me faziam sabatinas sobre os Estados Unidos e o Vietnã. A casa virou um centro de aglutinação e debates", lembra ele, que voltou a jogar basquete na época, com os alunos.

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