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01/03/2006

Victor Valla

Entre os presbiterianos

Ricardo Valverde


Foto: Peter Ilicciev.
 

Ele desistiu do catolicismo, mas a inquietação espiritual o levou a outros caminhos da fé. Victor freqüenta a Igreja Cristã de Ipanema, fundada em 1964 por presbiterianos de Copacabana que chegaram à conclusão de que a igreja deles não tinha preocupação social. O primeiro pastor, sintomaticamente, era membro da AP - e teve que se mudar para os EUA, com a esposa americana, quando viu sua casa ser invadida pela polícia, que enxergava nele um subversivo. A velha casa que o grupo encontrou para ser a sede da igreja ficou mais de um ano abrigando favelados que sofreram com as enchentes no Rio daquele ano. Um dos membros era Lysâneas Maciel, que mais tarde se tornou político e montou a creche que hoje é considerada modelo. Outro que ganhou destaque foi o pastor Jonas Resende, que após ter escrito um livro que fazia críticas à teologia tradicional saiu da Igreja Presbiteriana. E levou junto um grupo de fiéis, que também a deixaram quando Resende foi expulso. Todo o grupo se desfiliou.

"Mas eu tenho dificuldade em explicar a fé. Não é fácil dizer que tenho fé ou acredito em Deus. De que Deus estamos falando? Deus tem sentimentos e fica triste quando o homem explora o homem. O Deus que acredito está ao lado dos pobres, é total e exclusivamente voltado para eles. Cristo nasceu e viveu entre os pobres. Se você acredita que a Bíblia é a revelação da palavra divina, então ele sempre está falando da pobreza. A fé é transformação", afirma Victor, que lê no momento Jesus antes do cristianismo. "Quem optou pelos pobres foi Deus. Conversão não é acreditar em Deus, ou pertencer a uma igreja. Conversão, a única que vale a pena, é converter-se à causa dos pobres". Para Victor, que em seu pós-doutorado na Califórnia descobriu o chamado budismo engajado e as práticas espirituais e meditativas orientais, a tendência dos teólogos da libertação é sair da Igreja Católica. Ele acredita que, numa eleição para Papa, todos os cristãos deveriam votar.

Victor diz que na Igreja Cristã de Ipanema não há sermão. Há debate. O pastor lê um trecho bíblico e depois abre a discussão. O pastor da igreja de Copacabana vai à marcha do orgulho homossexual e outro, do Rio Comprido, convive com moradores de favelas e com eles fundou o Centro das Vítimas Atingidas pela Violência.

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