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01/03/2006

Victor Valla

Um AVC muda a vida de Victor

Ricardo Valverde


Discreto sobre sua vida pessoal, Victor não gosta de comentar os seus três casamentos. A atual esposa é a fotógrafa e artista plástica Kita, com quem mora no Catete, na Zona Sul do Rio. Ela é educadora e atualmente trabalha no Senac Rio - Centro de Cultura e Comunicação e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde é professora do curso de fotografia.

Foto: Virgínia Damas.
 

É Kita - segundo Victor a maior paixão da sua vida - que tem dado a ele um grande apoio desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), em setembro de 2001. A recuperação tem sido boa e surpreendido os médicos, tanto que um mês depois Victor voltou a trabalhar, após passar um período igual no hospital. Em todos os 30 dias, recebeu a visita do pastor.

Andando bem devagar devido ao AVC, Victor passou a caminhar pelas ruas muito cedo, por volta das 6h30, quando elas ainda estão vazias. Ele dá uma volta nos quarteirões próximos à sua residência, compra o jornal e vai a um botequim tomar café. Nos fins de semana dirige-se aos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete e residência dos presidentes da República quando o Rio era a capital do Brasil. Depois volta para casa, toma banho e espera o táxi que o leva ao campus da Fiocruz, em Manguinhos. Da Ensp vai para a hidroterapia, duas vezes por semana, com aulas de 50 minutos. "No início caí três vezes e fiquei com medo. E esse medo me inibe um pouco", diz Victor, que não usa bengala ou cajado para não criar dependência e passar a depender de muletas.

O problema o afastou das comunidades, embora ainda faça um esforço quando exigem sua presença. "Gosto do contato com as pessoas humildes, isso faz parte de uma proposta de pesquisa e vida. Esse contato tem que ser freqüente e permanente". Além de restringir a disponibilidade entre os pobres, Victor teve que parar de dirigir, um hábito que sempre lhe deu prazer. "Não posso mais. Há uma possibilidade de voltar a guiar, mas é remota. Meu reflexos ficaram lentos. Um carro hidramático talvez resolvesse, mas acho difícil", diz resignado o torcedor do Botafogo que deixou de acompanhar o time alvinegro no Maracanã. E que também por conta do AVC restringiu as viagens a dois lugares que adora: Mauá e Arraial do Cabo.

No ano passado Victor lançou o livro Para compreender a pobreza, que aborda as intervenções dos governos nas favelas, dos anos 40 aos 80. A obra mostra como os projetos governamentais propunham mudanças para as favelas. "Mudanças com as quais os moradores não concordavam porque, como sempre, os intelectuais não têm respostas para eles", afirma Victor, um pesquisador que fez do correto entendimento dos valores e necessidades dos necessitados uma razão de viver.

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