Expedições científicas marcam trajetória centenária da Fiocruz

Comprometida desde a sua origem com a resolução dos problemas sanitários do país, a Fiocruz promoveu, ao longo do século 20, inúmeras expedições que tinham como objetivo encontrar soluções para os problemas de saúde brasileiros. Se no passado os seus cientistas desbravaram as fronteiras nacionais, em 2019 chegou a vez de a Fundação desenvolver suas pesquisas na Antártica. Com duração prevista de quatro anos, o projeto Fioantar vai levar pesquisadores da Fiocruz para um empreendimento de caráter multidisciplinar no continente gelado.

Se no passado os seus cientistas desbravaram as fronteiras nacionais, em 2019 chegou a vez de a Fundação desenvolver suas pesquisas na Antártica (foto: Divulgação)

 

Diretor-geral de Saúde Pública, o próprio Oswaldo Cruz percorreu o país, em 1905, para a realização de inspeção sanitária em 23 portos brasileiros. Em 1907, Carlos Chagas identificaria o ciclo completo da doença que levaria o seu nome, justamente ao realizar ações de profilaxia em trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil em Minas Gerais. Envolvidos com os esforços do Estado para diagnosticar e solucionar os problemas sanitários do país, os cientistas do então Instituto Oswaldo Cruz envolveram-se em expedições que fizeram a história da saúde pública brasileira.

“O sucesso das ações de Oswaldo Cruz como gestor de saúde pública no Distrito Federal e na direção do Instituto Soroterápico no início do século 20 deram uma importância enorme às pesquisas que eram realizadas em Manguinhos. Essas viagens tinham o objetivo de resolver problemas locais, como a malária e a febre amarela, mas também acabavam se tornando espaços de descobertas do interior do Brasil e de novas doenças”, afirma a pesquisadora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Gisele Sanglard.

Outras campanhas importantes para acompanhar obras de construção de rodovias e portos foram realizadas em expedições ao Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, entre 1911 e 1913, por médicos do então Instituto Oswaldo Cruz. Arthur Neiva e Belisário Penna, por exemplo, percorreram os estados da Bahia, Pernambuco, Piauí e Goiás com propostas de investigações científicas que ultrapassavam as preocupações médico-sanitárias de curto prazo. Os registros escritos e fotográficos da viagem revelavam, muitas vezes, observações de caráter sociológico e uma visão ampliada do país.

A comissão no vapor Rio Jamary explorou o Amazonas, em 1913 (foto: Acervo COC/Fiocruz)

 

“Desde o início do século 20, o Instituto Oswaldo Cruz foi protagonista nas viagens pelo interior do país a partir de uma perspectiva médica. Os cientistas de Manguinhos estavam abertos a descobrir os sertões pensando não apenas nas doenças, mas no homem brasileiro. Entre esses casos, o relatório do Arthur Neiva e Belisário Penna é o mais paradigmático do que poderia ser chamado dessa perspectiva sociológica", explica Gisele Sanglard.

Fiocruz na Antártica

Um novo capítulo das expedições científicas da Fundação Oswaldo Cruz está sendo escrito com a nova campanha rumo a Antártica. Com a participação de pesquisadores de oito laboratórios diferentes da Fundação, o projeto Fioantar faz parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), conduzido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), da Marinha do Brasil. Assim como no passado, o objetivo dos pesquisadores da Fiocruz é produzir respostas nas áreas de ciência e tecnologia em saúde para a população brasileiro e o sistema público de saúde.

“A Fiocruz tem essa longa tradição de expedições, sejam de grandes ou pequenas viagens científicas. O que move um cientista são as novas perguntas. O cientista tem que estar em movimento, não pode ficar no gabinete esperando respostas. Às vezes a pesquisa precisa ser in loco, seja na Amazônia, seja na Antártica”, comenta a coordenadora do PPGHCS.

A partir de dezembro de 2019, a Fiocruz já contará com um laboratório permanente na nova Estação Antártica Comandante Ferraz, que será inaugurada em janeiro de 2020. Com caráter multidisciplinar, a pesquisa vai se dividir em duas linhas centrais para investigar as ameaças e oportunidades que os microrganismos presentes na Antártica podem oferecer para a saúde humana. A troca de conhecimentos e experiências com parceiros nacionais e internacionais é vista como um fator fundamental para a transformação dos resultados da pesquisa em produtos que beneficiam a população.

“Desbravar novas fronteiras é fundamental para gente poder conhecer o mundo. O que a Antártica tem a dizer sobre a circulação das doenças? O que ela pode informar sobre doenças que já existiram? Este é um capítulo que ainda não está escrito”, afirma Gisele Sanglard.

22/11/2019

Crédito
César Guerra Chevrand (COC/Fiocruz)
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Especial
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