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19/10/2015

Tema 'mobilização comunitária' fecha evento sobre desastres

Danielle Monteiro e Erika Farias


As ações comunitárias e as perspectivas que surgem a partir dessas iniciativas foram o tema da mesa da tarde de sexta-feira (16/10) do seminário internacional Desnaturalização dos desastres e mobilização comunitária: novo regime de produção do saber. A representante da Defesa Civil de Petrópolis, Roberta Dutra, falou sobre o Plano de Emergência criado pelo órgão logo após a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro. Fruto de uma reunião da Defesa Civil com segmentos da comunidade da região, o plano, segundo ela, representa um processo de mobilização comunitária. A partir dele, surgiram 16 planos territoriais de emergência.

Após a última mesa-redonda do evento, em frente ao Castelo Mourisco da Fiocruz, participantes do seminário realizaram ato em memória dos mortos desaparecidos no desastre da Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011 (foto: Peter Ilicciev)

 

O objetivo da iniciativa, segundo ela, é empoderar moradores e a liderança, assim como identificar vulnerabilidades e necessidades surgidas com a tragédia. Roberta contou que, a partir do plano, foram identificadas várias necessidades, entre elas, maior articulação e integração dos órgãos estaduais e municipais, mais participação da comunidade na construção dos planos e maior apoio jurídico aos afetados que precisaram sair de seu imóvel. “Nossa luta é muito grande. Precisamos ter mais sensibilidade quando entramos em território alheio, é necessário absorvermos os saberes da comunidade e compartilhamos com ela as informações.”, concluiu.

A representante do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH), Francine Damasceno, alertou para a necessidade de as instituições e cientistas irem até as comunidades e construir com elas um conhecimento horizontalizado. A educação popular, segundo ela, deve ser o instrumento principal do fazer ciência. Francine também chamou atenção para a política de remoção implantada na região e para a necessidade de se implantar ali uma política de habitação. “Aqueles que não conseguem resistir a essa política vivem hoje uma tragédia ainda pior. O estado democrático de direito ainda não existe”, ressaltou. Para Roberta, apesar de já ter passado cinco anos desde que ocorreu a tragédia na Região Serrana, o Estado ainda não cedeu uma casa sequer para os afetados pelo desastre. “A tragédia mostrou a desestrutura do nosso país e das instituições. O povo conhece as respostas para os problemas e, por isso, precisamos juntos construir com ele essa sabedoria”, defendeu.

Integrante da Associação das Vítimas das Chuvas do dia 12 de janeiro em Teresópolis (Avit), Frei Marcelo ressaltou a deficiência do estado do Rio de Janeiro em dar suporte às vítimas da tragédia de 2011, na Região Serrana. “Nenhuma casa foi entregue até o momento. Mais de duas mil famílias dependem de aluguel social para viver. Dessas, cerca de 700 só foram conseguidas por meio de processos judiciais”, afirmou. Segundo ele, essas pessoas não receberam suporte psicológico e ainda sofrem pressões psicológicas.

Convidada ao palco, uma das vítimas do desastre se emocionou ao falar do tratamento que recebem. “É desumano. Não estamos pedindo nenhum favor. Pagamos nossos impostos e queremos de volta a nossa dignidade”, disse.

Solução precária

Representante da Associação de moradores do Córrego Dantas, região devastada pelas chuvas em Nova Friburgo, José Carlos alertou para a necessidade das associações não deixarem o assunto cair no esquecimento. “O descaso é grande em todas as áreas, não apenas a social. E nós precisamos resgatar nossa dignidade”, afirmou.

Por fim, Lúcia Helena Vilela, da Associação de moradores do Conjunto Habitacional Terra Nova, condomínio construído em região afastada de Friburgo, falou sobre o novo endereço. “Estamos longe do centro. Não temos escolas, creches, nem postos de saúde”, contou.

Os apartamentos do Terra Nova são distribuídos em 14 blocos com cinco pavimentos, totalizando 20 unidades por prédio. Cada uma com 42 metros quadrados. “Não há opções de lazer para crianças e idosos”, conta ela. Outra questão foi a escolha aleatória dos moradores. “Colocaram grupos de diferentes comunidades da região em um único espaço. Não levaram em consideração questões culturais, sociais”, disse Lúcia. Segundo a moradora, só vai morar ali quem não tem outra opção, ou quem tem medo de perder o aluguel social. “Quem pode, aluga algo fora. As pessoas pensam ‘que bom que você ganhou um lugar para morar’. Na verdade, ganhamos teto e paredes. Não ganhamos infraestrutura, nem dignidade”, revela.

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