Início do conteúdo

08/03/2017

Fiocruz investe e avança na promoção da equidade de gênero

Pamela Lang (Agência Fiocruz de Notícias)


Com 55,7% de sua força de trabalho composta por mulheres e tendo uma mulher eleita como presidente pela primeira vez na história da instituição, em 2016, a Fiocruz tem demonstrado enormes avanços na pauta de equidade de gênero.

Na área de pesquisa, as mulheres também são maioria, ocupando 60% das funções, segundo dados levantados pelo Observatório em Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde da Fiocruz, em 2015. O perfil dessas pesquisadoras é extremamente qualificado, tendo, a maioria delas, atingido o grau máximo acadêmico, com o título de doutorado, e em áreas que tradicionalmente são ocupadas por homens, como Ciências Biológicas e da Saúde.

Chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), a pesquisadora Marilda Siqueira é um dos exemplos de mulheres que ocupam cargos de liderança na pesquisa da Fiocruz. Marilda acredita que a Fiocruz tem trabalhado bem a equidade de gênero ao longo do tempo e que o ambiente de instituições públicas pode facilitar a ascensão profissional das mulheres.

“Em nenhum momento, me senti constrangida ou percebi que meu trabalho fosse menos valorizado devido à questão gênero. Não acho que isso acontece na Fiocruz. Muito pelo contrário, sempre recebi um grande estímulo, principalmente por parte do pesquisador Hermann Schatzmayr [virologista, falecido em 2010, que chefiou o Departamento de Virologia do IOC por 26 anos]. Por um lado, acho que as conquistas femininas avançam com maior facilidade na Fiocruz porque esta é uma instituição pública. Em uma empresa privada, um chefe ou dono pode ditar as regras e há maior dificuldade em algumas situações que impactam muito na vida da mulher, como a licença maternidade. Dentro de uma instituição pública, existe um espaço maior, uma vez que o medo de perder o emprego ou de não ascender profissionalmente por causa de uma linha de pensamento diferente não tem tanto impacto”, comenta a pesquisadora.

Nísia Trindade foi eleita pela maioria dos servidores da Fiocruz nas eleições de 2016 (Foto: Peter Ilicciev)
 

Segundo a nova presidente da Fundação, Nísia Trindade, os avanços na Fiocruz têm refletido um movimento geral da sociedade em que a questão de gênero tem ganho uma importância cada vez maior. “Temos tido, sem dúvida, avanços nos últimos anos. Acho que isso reflete um movimento geral na sociedade e também na Fiocruz. A discussão sobre equidade e a liderança das mulheres vem se intensificando como uma das agendas democráticas importantes dentro da instituição”, comemora Nísia Trindade, que divulgou nesta quarta-feira (8/3) carta direcionada às trabalhadoras da instituição.

Mulheres na liderança: conquistas e desafios

Com relação aos cargos de liderança, segundo dados de 2015 da pesquisa International Business Report (IBR) - Women in Business, realizada pela Grant Thornton, em 36 países, apenas 19% deles, no Brasil, são ocupados por mulheres, colocando o país entre os 10 com menos representatividade feminina em cargos de liderança, ficando atrás apenas do México (18%), Holanda (18%), Argentina (18%), Índia (16%), Alemanha (15%) e Japão (7%). No Brasil, 52% das empresas não possui mulheres em cargos de liderança.

A Fiocruz parece estar na contramão no que diz respeito à essa questão. Do total de cargos de confiança na Fundação, 53% são ocupados por mulheres. Dentre os pesquisadores, os dados também refletem uma predominância feminina na coordenação de projetos de pesquisa (60%); na distribuição das bolsas de produtividade do CNPq (53%); na coordenação dos programas de pós-graduação stricto sensu (53%) e nos cargos de assessoramento (58%).

No entanto, apesar de todas as conquistas, ainda há muito o que avançar. Embora a Fiocruz tenha 53% do total de seus cargos de chefia ocupados por mulheres, observa-se que há uma predominância masculina nos escalões superiores. Enquanto as mulheres ocupam 61% dos cargos DAS/FCPE 1, apenas 26% delas ocupam os cargos de Direção, que correspondem a DAS/FCPE 4.

“Nos níveis mais elevados dos cargos de confiança ainda há um predomínio de homens, o que indica que são espaços ainda a serem conquistados. O fato também de eu ser a primeira mulher presidente é uma referência fundamental, mas, à medida que nós temos os cargos de gestão nos níveis mais elevados, a presença masculina é preponderante, o que significa que ainda há o que se avançar para que tenhamos realmente uma equidade de gênero no desempenho das funções de gestão”, comenta a presidente da Fundação.

Em sua gestão, Nísia Trindade pretende avançar ainda mais na promoção de equidade de gênero na instituição, com o desenvolvimento de ações afirmativas que contribuam para reduzir as desigualdades de gênero e de raça, como o enfrentamento do assédio sexual no trabalho, a garantia de extensão do direito à licença gestante de 180 dias para as trabalhadoras terceirizadas e bolsistas, na perspectiva do programa empresa cidadã, e a promoção do aleitamento materno exclusivo nas dependências da instituição.

“Quanto mais valorizarmos a presença de mulheres e homens na nossa instituição e darmos a nós mulheres esse reconhecimento, teremos uma gestão que trabalha não só com valores de equidade, mas também com diferentes perfis e vivências, que corresponderão, inclusive, ao peso da representação das mulheres na própria força de trabalho na instituição, uma vez que somos a maioria do corpo de trabalhadores e nas funções de pesquisa. Acho que isso impacta a gestão, sem dúvida, de uma maneira a torná-la mais aberta, mais diversa, mais plural”, reflete Nísia Trindade.

Para marcar a semana do Dia Internacional da Mulher, a Fiocruz traz para a abertura do seu ano letivo duas cientistas brasileiras que tiveram participação crucial no enfrentamento à epidemia do vírus zika em 2016: a epidemiologista Celina Turchi, do Instituto Ageu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), e a virologista Ana Maria Bispo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O evento, com o tema A ciência brasileira e o enfrentamento da situação de emergência em saúde, acontece na próxima sexta-feira (10/3), às 9h30, no Museu da Vida, no campus da Fiocruz em Manguinhos.

Voltar ao topo Voltar