Jornalista paraibano, dono de uma cadeia de jornais denominada Diários Associados, futuro introdutor da televisão no Brasil, idealizador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Chateaubriand formou-se advogado pela Faculdade de Direito do Recife. Aprovado no concurso para professor catedrático da instituição, ele desistiu do cargo para dedicar-se à imprensa mas manteve vínculos com o meio acadêmico pernambucano. Foi de Chateaubriand a idéia de conceder bolsas de estudos para jovens médicos nas áreas de anatomia, anatomia patológica e parasitologia, visando aprimorar o ensino universitário no estado. O anúncio das bolsas levou a congregação da qual fazia parte Aggeu Magalhães a indicar Lobato para uma bolsa em anatomia patológica. O Brasil não contava ainda com cursos de pós-graduação e aquela era uma oportunidade única de se especializar em um centro mais desenvolvido. Escolhido pela congregação, Lobato arrumou as malas e foi estudar na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A USP, fundada em 1934, tinha apenas três anos. Ao deixar Pernambuco, o médico imaginou que ficaria um ano no estado pelo qual chegou a brigar na rua, em 1932, ao defender a Revolução Constitucionalista. Ficou mais que isso e de lá não voltou ao Recife.
Lobato (terceiro da esquerda para a direita) em 1939, no Hospital Oswaldo Cruz.Na Paulicéia, Lobato enfrentou problemas com professor Paulo de Queiroz Teles Tibiriçá, seu orientador na pós-graduação, que não lhe dispensava muita atenção. Um sentimento que pode ser explicado pela mágoa do médico, um paulista separatista e que segundo Lobato seria antinordestino. Assim, o jovem resolveu por conta própria levar à frente os seus estudos e se debruçar sobre o sistema nervoso central. Ele fazia necropsia, tirava o cérebro, a medula e levava para uma salinha, onde ficava estudando. Em uma dessas ocasiões, Lobato encontrou um caso de esquistossomose, doença até então pouco conhecida em São Paulo, e começou a pesquisar a enfermidade, que era recorrente na região de onde viera. Curiosos, outros alunos e professores - incluindo o conceituado parasitologista Samuel Pessoa - procuraram Lobato para saber mais sobre a moléstia. Para a maioria deles, era a primeira vez que viam um caso de esquistossomose. O rapaz passou o restante de 1938 estudando a doença e, quando se preparava para retornar ao Nordeste, soube que Chateaubriand acenava com a prorrogação, por mais um ano, da bolsa, que ele prontamente aceitou. Embora logo depois tenha dado adeus a São Paulo.
A vontade de Lobato era se transferir para o Rio, onde poderia trabalhar com Magarinos Torres, que era o chefe do setor de patologia no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em Manguinhos. Então ele pediu a Bezerra Coutinho, o homem que o pusera em contato com Jorge Lobo, que falasse com Torres sobre a sua disposição em se mudar para o IOC. No entanto, o assunto foi resolvido por Evandro Chagas, que o chamou para uma entrevista. Evandro não contava com um patologista em sua equipe e precisava de alguém que estudasse a patologia da leishmaniose visceral - na época havia uma epidemia de raiva entre os cães do Pará. O renomado cientista deu a Lobato toda a infra-estrutura de que necessitava e ainda montou um laboratório, onde trabalhou como assistente do Serviço de Estudo das Grandes Endemias (Sege) do IOC. Evandro, que sofria com a habitual falta de recursos governamentais, conseguia dinheiro para as suas pesquisas com patronos como o riquíssimo Guilherme Guinle, da família fundadora do Copacabana Palace, que contribuía anualmente com a quantia de 250 contos de réis para os estudos em Manguinhos.
Mais um ano se passou e a bolsa de estudos chegou ao fim. Sem querer voltar para o Recife - os colegas de especialização não estavam sendo bem recebidos ao retornar - e contente com a promessa feita por Chagas de contratá-lo, ele decidiu procurar Chateaubriand para discutir seu futuro. Sabedor das dificuldades que os demais ex-bolsistas enfrentavam no Recife, o fundador dos Diários Associados dispensou-o de regressar mas, preocupado com a carreira do médico, Chateaubriand disse que poderia lhe conseguir uma indicação para o posto de patologista-chefe no serviço de verificação de óbitos do estado da Paraíba. Lobato, no entanto, não demonstrava a menor disposição de seguir para o Nordeste - seu objetivo era permanecer no Rio. Ele ouviu então outra proposta do mecenas: o empresário falaria com o diretor do IOC, Antônio Cardoso Fontes, para tentar obter alguma colocação para o jovem. Naquele momento, Lobato contou do convite de Evandro Chagas para que continuasse em Manguinhos, informação que levou Chateaubriand a perguntar por que havia sido procurado, já que o emprego estava garantido. "Sendo assim, o senhor está liberado de seus compromissos com a Faculdade de Medicina do Recife", decretou o empresário, dando-lhe parabéns.