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01/04/2004

Lobato Paraense

A descoberta do ciclo exoeritrocitário da malária

Ricardo Valverde


Em 1941, com Aloisio Bezerra Coutinho, professor catedrático de patologia geral da Faculdade de Medicina de Pernambuco
 

A volta ao Pará se deu em 1940, quando, a pedido de Evandro, esteve em Belém de junho a dezembro para ministrar um curso sobre patologia da malária e hematologia. Em novembro daquele ano Evandro morreu em um acidente aéreo na Baía de Guanabara, deixando Lobato abalado - tanto que preferiu retornar ao Rio de navio, para demorar bastante a se reencontrar com um IOC que não contava mais com um de seus grandes nomes. Lobato criou raízes no Instituto e de 1941 a 1945 trabalhou como biologista extranumerário, sendo que neste último ano passou em um concurso, sendo efetivado como funcionário do IOC. Dos 13 candidatos, oito (um dos quais Lobato) foram aprovados.

Nessa época Lobato morava em Bonsucesso, um bairro vizinho a Manguinhos. O lugar ficava tão próximo que ele podia ir a pé - embora as dificuldades trazidas pela Segunda Guerra Mundial, entre elas a da escassez de combustíveis e conseqüentemente de transporte público - tornasse penosa a tarefa de caminhar até em casa para almoçar, sob o sol de meio-dia do Rio. Na época ele desenvolvia estudos sobre leishmaniose e outras protozoonoses, o que o levou a ser o primeiro pesquisador a comprovar a existência do ciclo exoeritrocitário da malária (em que o parasita sobrevive fora da hemácia), em 1943. O feito foi celebrado pelo maior especialista em protozoologia, o inglês Charles Morley Wenyon, que escreveu um artigo saudando os alemães Reichenow e Mudrow, além de Lobato, citando-os como os mais bem-sucedidos nas tentativas de comprovação.

A fama fez com que fosse enviado a Belo Horizonte para investigar uma epidemia de fogo selvagem, uma doença de pele em que se forma uma bolha e faz cair a pele, deixando um horrível mau cheiro. Ninguém sabia direito do que se tratava. Para uns era causada por estreptococos; para outros, por um vírus. Havia ainda os que afirmavam ser uma alergia ou uma reação provocada por um determinado alimento. Lobato foi, viu e descobriu. Ao ministrar a um paciente o hormônio da supra-renal, conferiu que a substância era benéfica ao doente. O sujeito adquiria uma cor de chumbo na pele e o pus secava. Lobato ficou entusiasmado com os resultados e com o palpite que deu certo. Na verdade, o que curava o doente era a penicilina, mas a secreção do líquido podia ser interrompida com o hormônio. Só que o entusiasmo do médico durou pouco. Um dia, ao pegar o trem que o levava do Rio a Belo Horizonte, Lobato carregou uma revista de dermatologia americana na qual um especialista mostrava que o hormônio da supra-renal arrebentava as artérias cerebrais da pessoa, em alguns casos. Foi o suficiente para que ele aposentasse o método e voltasse à pesquisa da malária, da piroplasmose e da toxoplasmose.

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